Considerações sobre Erros e Acertos

por Luiz Alberto Mendes

ALGUMA  CERTEZA

 

                   Mesmo que haja vários motivos para não se amar uma

                           pessoa, e um só para amá-la, este ultimo prevalece.”         

                                                                     Carlos Drummond de Andrade

       

Ficamos fracos, frágeis, limitados; nossos erros são tão estúpidos que parecemos errar mais do que acertamos. Os poucos acertos não parecem colaborar muito para nos manter vivos. Parece incrível que conseguimos nos organizar e conviver dentro de toda essa relatividade até agora. Às vezes me espanto em perceber como tudo funciona. As engrenagens não travam, fluem apesar do caos que produzimos.

Assim fragilizados, produzimos fortalezas que nos transcendem. Dominamos tudo à sua volta e crescemos interminavelmente. Do barro temperamos a argila que se torna mais resistente que o aço. Tudo à nossa volta, claro com exceção do natural, provem da cultura criada pelo homem.

Os sonhos, desejos e vontades de nossos ancestrais ultrapassaram milênios intactos em sua força e pujança. A Bíblia é um dos maiores exemplos. Lendo-a ainda hoje, podemos sentir, até rir ou chorar com a saga do povo judeu e sua idéia original de um Deus único. Uma saga que transcende a história desse povo para se tornar o guia de toda a civilização ocidental. “A República” sonhada por Platão; a “Cidade de Deus” imaginada por Agostinho; “A Utopia” de Thomas More; “A Nova Atlântida” de Sir Francis Bacon; “O Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley; “1984” de George Orwell; e “Neuromancer” de William Gibson. As cidades que temos hoje são o sonho do homem desde o Livro dos Vedas no vale do Ganges, do Código de Hamurabi na Suméria e as tábuas com os mandamentos, no monte Sinai.

As palavras transportaram, através dos milênios, as civilizações que investigamos hoje em nossos livros. Às vezes é vergonhoso observar como conseguimos perverter conceitos que custaram tão caro conquistar. Solidariedade, amor, lealdade, amizade, respeito, fidelidade e outros conceitos tão importantes para nós humanos. “A aranha vive do que tece”, diria Gilberto Gil.

Quem ensina se ensina ao ensinar. Temos sempre o aprendizado que nós próprios somos capazes de nos ensinar, em ultimo caso. Por exemplo, quem nos ensinou a sofrer ou a ser feliz? Essa capacidade nos tornou capazes de ir além dos fatores para os quais fomos treinados. Parece que fomos condicionados, mas deixaram essa parte por nossa conta. Exatamente por este motivo que não dá para escapar à responsabilidade de cada movimento nosso no mundo.

No fundo, somos apenas muito exigentes conosco. Se procurarmos, encontraremos nossos acertos. Com certeza, na contabilidade existencial, são maiores que os erros. Caso contrário já teríamos acabado com o planeta a muito tempo. Se bem que quase e há cientistas renomados que afirmam que já o fizemos. Não creio. Nada pode ser tão trágico como eles nos apresentam, porque amanhã ainda haverá um novo por de sol...

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Luiz Mendes

13/09/2010.       

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