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Conhecer-se é saber das consequências de seus atos
em 4 de março de 2013
Auto conhecimento
Quando conhecemos alguma parcela de nós mesmos, não conseguimos mais exorbitar de nossa capacidade ou condição. Exatamente na medida em que nos assenhoramos de nós, deixamos de representar o que não somos. Aprendemos a saber até que ponto aguentamos pressões, dores, solidões, angústias e todas as dificuldades da existência. Então descobrimos que só podemos ir até certo ponto. Até aquele ponto somos capazes de suportar as consequências. Dali para a frente pode ser até que podemos ir mais longe, mas por nos conhecermos, sabemos que o barco pode virar. Quem não se esforça por conhecer seus limites, perde o senso de proporções, torna-se cego e seu proceder descomedido.
Acho que aprendi a sobreviver, primeiro ao meu pai, depois às ruas; aos reformatórios para menores de idade infratores; e por fim à prisão por mais de 30 anos, baseado nesse conceito. Não ir além do que meus pés alcançavam; saber entrar e saber sair; atenção com as palavras emitidas; cuidados com as pessoas; e conquistar amigos e aliados.
Passei por todas as experiências de tortura possíveis. Pau de arara; pau de esculacho; pau de afogamento; pau de estrada; apanhei por três meses e meio de todos os modos imagináveis. Não sabia como, mas havia suportado e com muita moral. Meus parceiros sucumbiram. Um deles não aguentou e foi buscar o outro parceiro em casa, escondido debaixo das saias da mãe. Depois, não suportando a pressão da prisão se enforcou. Os outros dois enlouqueceram aprisionados. A vida havia me preparado para aquilo desde muito pequeno. Minha mãe dizia que eu nem sofria apanhando; estava calejado de tanto apanhar de meu pai.
Quem, ao contrário, não se conhece nem um pouco, não faz uma reflexão profunda sobre suas próprias capacidades e limites, esta condenado a se superestimar. A prisão esta repleta de pessoas que ficaram “fora de si” e perderam o pé da realidade. Enganaram-se quanto a si mesmos, não mediram a correlação de forças e acabaram metendo os pés pelas mãos.
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Luiz Mendes
26/02/2013.
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