Em entrevista exclusiva, Douglas Silva e Darlan Cunha comentam a corrida de Cidade de Deus rumo ao Oscar
Darlan Cunha, 15, e Douglas Silva, 14, chamaram atenção do Brasil por suas atuações em Cidade de Deus. Do filme para a elogiada minissérie Cidade dos Homens, onde vivem Laranjinha e Acerola, respectivamente, foi um pulo só.
Nesta semana, a dupla recebeu a notícia que seu primeiro e único longa recebeu quatro indicações ao Oscar. "Achei bem legal, uma coisa bem merecida. Se levar o prêmio ou não, eu não me importo. Não importa o que a gente ganhe no sentido material e sim o que a gente fez", comenta Douglas, que no filme interpretou Dadinho quando criança.
A preparação para o filme levou dois anos e reuniu jovens das próprias comunidades recrutados em aulas de cinema e teatro promovidas pela ONG Nós no Morro. "Havia duas mil pessoas. Dessas, duzentas participaram do filme. Não tinha uma expectativa "vou trabalhar num filme".
A gente trabalhava em grupo, e tinham várias improvisações. Depois de um tempo é que eles começaram a distribuir os personagens", conta Darlan, que interpretou o Filé com Fritas. "Quando me falaram "Douglas, você está sendo convidado para fazer um longa-metragem", eu não sabia nem o que era [um longa-metragem]. Antes, só tinha feito teatro no meu colégio", revela "Dadinho".
Douglas Silva aproveita para elogiar o trabalho de Fernando Meirelles, candidato a estatueta pela direção do longa. "Não tinha nada de decoreba, foi uma coisa bem improvisada. O trabalho foi maneiro, o roteiro foi maneiro, o diretor, que é o Fernando, também foi maneiro. Já trabalhei com alguns diretores, mas o Fernando foi o melhor para mim."
Os dois reconhecem que o filme é violento, porém necessário: "Existem vários filmes violentos que todo mundo assiste, filmes de guerra dos Estados Unidos. Cidade de Deus mostrou a realidade para muitas pessoas que não conhecem". Darlan completa: "É importante para um cara que não conhece o Brasil estar ciente dessa parte, do que está rolando".
Douglas respeita a opinião de MV Bill, rapper criado em Cidade de Deus, que chegou a publicar um texto na internet criticando a forma pessimista como o filme retrata a comunidade. "Eu admiro muito o trabalho do Bill. Eu gosto muito da Cidade de Deus, mas fiz o meu trabalho, o que o diretor pediu. Eu não tenho nenhum problema, tipo "Ah, falou mal do meu filme", é a opinião dele. Eu fiz o melhor que pude. Tem uma galera que gosta muito do filme."
E a vida, melhorou depois do filme? Douglas, de volta depois de uma semana de férias em Fernando de Noronha, responde: "Deu pra ganhar um dinheirinho. Vou te dizer que até hoje está guardado. Não comprei nada grande, o que aconteceu já foi muito grande para mim: fiz mais amigos, mudei de casa, de bairro, estou começando a praticar mais esportes". É só o começo.