Há uma transformação silenciosa acontecendo. Todo negócio, grande ou pequeno, formal ou informal, vai acabar se tornando digital
A tecnologia não vai poupar ninguém. Quem apostava que apenas alguns setores iriam se transformar, agora começa a perceber que está digitalmente enganado. Basta pensar nas mudanças que aconteceram nos últimos 20 anos. Primeiro, as indústrias culturais foram completamente reinventadas. Música, filme, jornais e até TVs mudaram radicalmente. Depois, a própria ideia de governo começou a mudar. Surgiu o conceito de “cidade inteligente”, de GovTech (tecnologias aplicadas à prestação de serviços públicos) e assim por diante. Em outras palavras, o próprio Estado tornou-se objeto de disrupção.
Agora, o fenômeno começa a se aprofundar e afetar até mesmo os menores nichos. Uma das razões para isso é a democratização das ferramentas de análise de dados. Todos sabemos que entender quem é o nosso consumidor sempre foi algo fundamental. A ideia de criar um relacionamento permanente com o cliente sempre esteve na raiz da sobrevivência das empresas mais prósperas.
No entanto, esse conceito atinge agora patamar ainda mais elevado. É só pensar. Hoje, do bar situado na esquina de uma grande cidade à farmácia situada em uma cidade do interior, todos os pequenos negócios têm acesso a um conjunto de ferramentas (muitas delas gratuitas) que permitem analisar em detalhes os hábitos dos seus clientes, os produtos preferidos por eles, seu potencial de consumo e assim por diante.
Em outras palavras, a “análise de dados”, que antes era utilizada apenas por grandes empresas que geram grandes volumes de informação, agora é uma ferramenta ao alcance de pequenos empreendimentos. Mais do que isso, está se convertendo em uma necessidade. Quem usa esse tipo de ferramenta acaba tendo uma vantagem competitiva sobre quem não usa.
Dados pessoais?
No entanto, há medidas fundamentais a serem tomadas. A primeira delas é proteger a privacidade das pessoas com quem seu negócio se relaciona. Recentemente, os Estados Unidos foram atingidos pelo escândalo do vazamento de dados da empresa Equifax, que possuía dados pessoais de milhões de pessoas. O caso não só abalou a confiança na empresa, mas também colocou uma pulga atrás da orelha de todo consumidor norte-americano sobre a importância da proteção de dados pessoais.
Um caminho para isso é que toda empresa, grande ou pequena, precisa elaborar uma Política de Privacidade. Esse documento precisa ser claro, transparente e dizer com todas as letras o que um consumidor pode esperar em termos da segurança dos seus dados. No Brasil, essa política de privacidade já é uma obrigação legal para todas as empresas que atuam na internet, graças à lei do Marco Civil. Há três projetos sobre proteção de dados em tramitação no Congresso Nacional que prometem torná-la obrigatória também para empresas que atuam fora da rede.
Desse modo, análise de dados e privacidade são dois lados da mesma moeda. Eles podem parecer em princípio excludentes ou até contraditórios, mas um não pode existir sem o outro. Garantir a privacidade dos usuários é o primeiro passo para poder utilizar ferramentas de análise de dados. Não só para isso. É também o primeiro passo para implementar tecnologias que tornam as “cidades inteligentes”. Uma cidade inteligente que não garante a privacidade dos seus cidadãos é apenas uma cidade de vigilância permanente, um panóptico similar à famosa prisão concebida por Jeremy Bentham.
Assim, a análise de dados é uma ferramenta poderosa que pode gerar um novo padrão de competitividade para qualquer negócio. Mas quem não souber aliar essa ferramenta com privacidade, poderá não só perder a confiança dos seus clientes, como também ter problemas com a lei.
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