por Diogo Rodriguez

Peça sobre ganância corporativa e redenção reestreia em SP no Espaço Parlapatões

Estreia hoje no Espaço Parlapatões a nova temporada da peça O Crápula redimido, escrita e dirigida pelo dramaturgo e ator Leonardo Cortez. Getúlio Miranda, personagem protagonista do texto, é um executivo que procura a prosperidade a qualquer preço, sem se preocupar com as possíveis consequências disso. Um problema de saúde, porém, fará com que ele passe a encarar a vida de outra maneira e a tentar buscar, como está implícito no título, a redenção.

A trilha sonora da busca de Getúlio é feita por Ricardo Corte Real (guitarra) e Daniel Canalha (bateria), que misturam blues e rock tocados ao vivo com samples e efeitos eletrônicos. Parte de uma trilogia, o texto de O crápula redimido tem diferenças em relação ao original, que debutou nos palcos em 2003, segundo o diretor.

De onde veio a inspiração para o texto?
A inspiração veio de uma entrevista que li na Veja, na qual um executivo da Nike tinha esse discurso de que os sete pecados capitais são o caminho para a prosperidade. Ele dizia que o capitalista por excelência é um vaidoso, um cara que valoriza o conforto material, que corre atrás disso e por isso consegue tudo o que ele quer. Ao ficar menosprezando os pecados capitais, se constroi um capitalista bem-sucedido. Essa foi a inspiração para o início da peça. Mas a minha grande questão é quais seriam as consequências no âmbito pessoal, como ele conseguiria gerenciar relacionamentos tendo uma perspectiva de vida dessas. Esse embate entre o captalista bem-sucedido e a pessoa que se torna mal-sucedida justamente porque a prosperidade capitalista está acima de qualquer coisa, em detrimento das relações pessoais. Esse conflito dá o aspecto dramático e cômico da peça.

Você pesquisou para fazer o texto?

Não sou um dramaturgo que faz pesquisas nesse sentido. Observo as relações de trabalho, sou também ator, já me inseri em diversas estruturas de trabalho muito complexas, dentro da televisão, com eventos, com coisas que me dão embasamento de observador dessa estrutura corporativa.

Qual é o maior sacríficio do homem moderno?
Ele é obrigado a ser um engolidor de sapos profissional. Com a internet e a globalização, a informação está muito democratizada, mas ao mesmo tempo o mercado de trabalho é muito saturado. O acúmulo de conhecimento, de informações de sabedoria, não significa necessariamente uma boa colocação dentro do mercado.

Qual é o papel do teatro nesse contexto?
O teatro tem a função de extravasar sua angústia pessoal e tentar tocar o coração de algumas pessoas. Vivemos um momento em que o teatro é pouco assistido. Vou fazer uma temporada nos Parlapatões, mas o número de pessoas que vai consumir o espetáculo é restrito. Não tenho a pretensão de ser o cara que vai conscientizar as pessoas. A princípio, escrevo para extravasar minha angústia em relação a essas questões. Como diz [Anton] Tchekov, se você quer falar sobre a humanidade, então é melhor você investigar o próprio quintal. Em princípio, escrevo para extravasar minha angústia. Se isso fomenta discussões posteriores, acho ótimo. Quem sabe eu não consigo atingir um número maior de pessoas?

Vai lá: O crápula redimido
Espaço Parlapatões
(Pça. Franklin Roosevelt, 138, Centro; telefone: 3258-4449)
Às sextas-feiras, meia-noite
Ingressos R$ 30 (inteira)

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