Nossos atletas arrasam no half pipe
Para quem acompanha à média distância é quase inevitável associar surfe e skate ao mesmo ambiente. Todos sabem, ou desconfiam, que o skate nasceu quando surfistas, cansados de esperar pelas ondas nos verões californianos, resolveram colocar rodinhas nas pranchas.
De lá para cá os grupos se distanciaram, criando cada qual um estilo de comportamento que identifica seus praticantes. A intersecção entre os universos é considerável e também é verdade que existem muitos praticantes que estão bem fora do padrão louro/bronzeado e/ou calça caindo na bunda.
O surfe veio antes, temos 8.400 quilômetros de costa e uma indústria surfwear estabelecida que até investe no skate. Mas no cenário internacional de competições profissionais é o skate que coloca o Brasil no zenith.
Enquanto no surfe só alcançamos títulos mundiais em categorias menores ou modalidades específicas, no skate, Sandro "Mineirinho" Dias acaba de conquistar o quarto Mundial para o Brasil nas principais modalidades, cada um deles com um atleta distinto.
Ouvi, a respeito do sucesso dos skatistas brasileiros, que o fato de treinarem por aqui em condições precárias contribuiria para o desempenho crescer andando nas boas pistas nas quais se disputa o circuito. Boa tentativa, mas, fosse verdade, nossos surfistas deveriam arrebentar nas ondas balinesas, havaianas, australianas. O que, comparativamente, não é a regra.
País de concentração urbana, talento individual, raça, não acho que seja possível identificar um fator primordial para determinar nosso desempenho no skate. Também não importa. O fato é que nas rampas e pistas estamos alcançando com frequência o que nas ondas continua um sonho distante.
Desde 2000 foram dois títulos mundiais no vertical e dois no street. Bob Burnquist, Carlos de Andrade, Rodil Araújo e agora Mineirinho, que viu skate pela primeira vez em aos seis anos, em Santo André, SP, onde nasceu. Quem o viu, dois anos mais tarde, andando na recém-inaugurada pista pública de São Bernardo não tinha dúvida de que ali tinha um campeão. O ídolo mundial Tony Hawk, 15 anos mais tarde, viu a mesma coisa e chegou a apontá-lo como seu sucessor.
Mas esse talento por pouco não foi perdido no início da década passada, quando o segmento entrou em colapso e várias pistas foram fechadas. Durante cerca de cinco anos, prancha para Sandro só a de surfe.
O retorno se deu num campeonato no Center Norte, o qual foi despretensiosamente assistir e acabou competindo e ficando em quinto. Pouco depois reuniu alguns amigos e com recursos próprios construíram um half pipe de madeira no galpão da empresa do pai. Foi o primeiro passo para se lançar no cenário competitivo internacional. O segundo foi o incentivo da família.
Deve ter sido um final de semana angustiante para ele este último. Para assegurar o título precisava ao menos ficar em terceiro. Competindo em casa, o canadense Pierre Luc Gagnon era o único que podia alcançá-lo. Com apoio da torcida Gagnon venceu, mas Mineiro, abusando da sua especialidade, variações de aéreos 540, garantiu o terceiro lugar, o Mundial, e justificou seu apelido no circuito "smiley brazilian".
NOTAS
20 ANOS
Com festa na Hípica Santo Amaro e o lançamento da edição 216, a revista Fluir comemora hoje duas décadas de vida. Uma foto do Alemão de Maresias na recém-descoberta, e já proibida pelo Ibama, onda de Torres, RS, publicada na edição, vai entrar para a história como a maior registrada no Brasil.
PRÓTESE
O alpinista americano Aaron Ralston ficou famoso quando amputou o próprio braço para sair com vida de uma frustrada escalada. Cinco meses depois ele reaparece competindo, com braço mecânico, numa corrida de aventura. Foi recebido com palmas, fez discurso, deu autógrafos, depois remou 20 quilômetros, correu 24, pedalou 30 e patinou 18.