BBB e Shoppings Centers

por Luiz Alberto Mendes

 

O ideal da modernidade é da independência individual das pessoas. A busca é de nos tornarmos auto-suficientes e emancipados para não precisarmos mais uns dos outros. É muito parecido com a luta pela sobrevivência que fui obrigado a praticar para sair inteiro da prisão. A vida social atual, ao tempo que limitadora, parte do princípio de que o homem é o predador do próprio homem. Em tempos modernos (não confundir com pós-modernidade) a sociedade dos homens era pensada segundo o princípio que juntos poderíamos criar um mundo melhor para todos. Essas idéias eram chamadas de Humanismo. É dai que nasceram as grandes ideologias que polarizaram as mentes e o mundo no século passado.

Nesse jogo de sobrevivência/independência, confiar, ter compaixão, amor ou preocupação pelos outros são atuações quase suicidas, como na prisão. Ao sobreviver os obstáculos à frente, ser independente às pessoas, nos tornamos mais aptos e adaptados à realidade social. A idéia é de emancipação do outro, mas a contrapartida é dos outros estarem independentes de nós e não precisarem de nós também. Não devendo nada aos outros, e nem eles a nós, idealiza-se que a outra pessoa não nos possa cobrar em de nada. Separa-se o outro de nós e individualiza tanto a nós quanto ao outro. Acaba ai a idéia romântica de sermos cada vez mais amorosos, atenciosos e amigos dos outros. Não é necessário sejam carinhosos conosco e muito menos nós com eles.

O Big Brother Brasil é exemplo disso. A idéia é que a vida ali dentro daquela casa (maravilhosa, com piscina e tudo) é dura e que carece de pessoas adaptadas para enfrentar os obstáculos e vencer. Os sobreviventes. As pessoas encontram seus pares e se aliam para vencer obstáculos, e ali, além das provas, os obstáculos são os outros participantes. Depois de eliminar os outros grupos, passam a lutar contra as pessoas do próprio grupo, um a um de seus elementos para se consagrarem vencedores.

Outro exemplo são os Shopping Centers. Preferimos ir a um shopping do que ir a uma reunião em que se discute problemas humanos, religiosos ou até sociais. E não vamos lá para encontrar pessoas, conversar, fazer amizades e sim, na maioria das vezes, somente nos mostrar para pessoas. Não há diálogos intergrupos nos shoppings, por mais lotados e cheio de gente que eles estejam como nessa época de fim de ano. Comenta-se produtos que se vai consumir com as pessoas que acompanham.

A minha questão no caso é saber até onde, as pessoas que assim idealizam, estão dispostas a ir? Vão tornar a vida aqui fora como a de uma prisão? Salve-se quem puder? A vida em sociedade nos coage a melhorar nossos sentimentos em relação aos outros, quebrando as barreiras do individualismo; ou a coerção social é fator que apenas nos atrapalha e impede de desenvolver a nossos potenciais como indivíduos? Para pensar...

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Luiz Mendes

24/12/2014.

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