Escrevo esse e-mail a você porque estou indignada. Mais ainda, estou puta da vida! Tem hora que penso que não vou aguentar mais. Os homens são uns tarados, uns maníacos! Eu acordo cedo pra caramba (5:30 horas), faço a papinha (que já deixei encaminhada antes de dormir) e acordo meu bebê. Ele sempre acorda enfezado, bravo, chorando, às vezes até gritando; quer dormir mais. Mas não pode e meu coração fica aos pedaços ali olhando seu rostinho vermelho e os olhos caindo de sono. Então vou me preparar para sair. Sou vendedora e trabalho em uma loja chic no shopping. Eles, os "chefes", cobram de mim estar sempre bem arrumada, cabelo pintado (sem cabelos brancos), unhas feitas e pintadas, roupa e sapatos discretos, quase clássicos (tênis, nem pensar...). Claro que não me pagam tanto assim para manter tudo isso. Mas a necessidade foi me ensinando a "fazer" minhas unhas, retocar pintura e arrumar o cabelo.
Saio de casa com meu neném para deixá-lo com uma senhora que nem sei dos cuidados que tem, mas quero confiar que trata meu tesouro com carinho. Então sigo em frente, caminhando até o ponto de ônibus. E serão três conduções; ônibus, metro e trem até chegar ao meu trabalho. Mas ai que começa minha indignação, minha raiva! Puxa, será que não dá para desconfiar pela minha cara de sono e saco cheio, que eu não estou nem um pouco a fim de paquera, sexo, namoro, ou seja lá o que for? Ficam me comendo com os olhos, parece que nunca viram uma mulher! Os olhos brilhando, maliciosos, me despindo toda e aquele sorrisinho sem vergonha na cara. Sinto-me vasculhada, a vontade é de encher o cara de porrada pelo desrespeito!
Tenho que abaixar os olhos quando passo pelos homens. Caso erga a pontinha do olho por distração ou curiosidade, já posso ser abordada e o sujeito tem certeza de que eu quero transar com ele. È difícil sair desses assédios sem mandar o invasor para aquele lugar. Caso reaja, posso ser chamada de “sapatão”, não que eu tenha nada contra, apenas não me compete.
Ao chegar na fila do ônibus então a situação piora. São centenas de olhos focados em mim e em todas as mulheres jovens que aportam. Sinceramente, dá vontade voltar para trás, cair em minha cama e não acordar mais! É uma agressão, àquela hora da manhã, das mais violentas. Caso não consiga lugar para sentar, tenho que ir de pé senão perco meu horário. E são 2 horas de viagem no trânsito ferrado. Ai então que eles querem se aproveitar. Indefesa, tentando me equilibrar no ônibus que salta como cavalos nas ruas esburacadas e me jogam para todos os lados, é quando eles, esses covardes, chegam. Encostam, às vezes até com o sexo duro, cutucando, querendo sei lá o que dentro do ônibus. Que ilusão tem esses caras? De certo pensam que ao encostar, eu já fico toda molhada e pedindo para que me invadam ali mesmo. Eu meto é o cotovelo neles. E com todas minhas forças! Já quase apanhei umas duas vezes, mas não aguento essa violência, caso venham, vão se dar mal. Às vezes é a condução que esta lotada e não tem como evitar essa esfregação. Há homens que possuem educação e se esforçam por não nos oprimir.
Quando chego ao metrô é um alívio. É até estranho; aqueles homens que procedem com educação no metrô são os mesmos que mexem e assediam as garotas no ônibus. O metrô é mágico. Você encontra um monte de pessoas lendo, até de pé, pendurado por uma das mãos no alto. Ali as pessoas são gentis; cedem lugares às pessoas de idade e, geralmente, não sentam nos bancos reservados. Falam ao telefone baixinho, quase sussurrando. Escutam música com os fones de ouvido, não ficam encarando a gente, buscando nossos olhos. Claro, eles nos olham, mas com certa sutileza, discretamente. Caso estivesse a fim de homem naquela hora, seria no metrô que eu os procuraria. Ando de metrô todos os dias e sinto que ali, pelo menos ali, o povo é civilizado. Porque essa diferença? Porque os homens não podem ser sempre assim educados em todo lugar como são no metrô?
Vou chegando ao centro da capital e novamente os olhares lúbricos, pegajosos. Tem uns idiotas que fazem até movimentos com a língua para fora da boca. Nem desconfiam do nojo, da náusea que nos causam àquela hora da manhã com tais atitudes... O pior é que quase sempre são os homens mais velhos que mais mexem conosco. Isso me leva a ter esperança: os jovens já não são assim obsecados por sexo como a geração anterior. Meu filho, com certeza, vou educar, vou ensinar e ele não há de ser assim grosso, invasivo e agressivo com as mulheres.
Uma mulher revoltada.
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Luiz Mendes
03/11/2014.