Ronaldo Lemos: Problema do ”cloud computing” é falta de regras internacionais sobre os dados
Cada vez mais dados são processados em computadores de outros países. O problema do "cloud computing" é que não há acordos internacionais dizendo como a informação deve ser tratada
Grande parte dos leitores deste artigo provavelmente usa algum tipo de e-mail baseado na web, como Gmail, Yahoo, Hotmail, dentre outros. Alguns usam sites como o Google Docs para criar documentos online, como planilhas e textos. Outros fazem da internet um grande “disco virtual”, armazenando boa parte das suas informações pessoais na rede, dispensando o HD do computador ou discos externos. Esses são os elementos básicos do que vem sendo chamado de “cloud computing” ou computação “na nuvem”. Em vez de manter as informações localmente, cada vez mais os dados são processados na “nuvem”, isto é, em computadores situados na maioria dos casos em outros países.
No mundo dos negócios isso já é um procedimento normal. Em vez de comprar um monte de computadores próprios, muitas empresas preferem contratar os serviços da Amazon ou da Salesforce.com. A empresa envia os dados lá, onde são processados, armazenados e acessados, tudo pela rede.
O problema do “cloud computing” é que não há acordos internacionais dizendo como a informação que é mandada para fora deve ser tratada. Isso gera vários tipos de problemas e preocupações. Uma falha no Gmail, por exemplo, fez desaparecer os e-mails de 150 mil usuários, muitos dos quais perdidos para sempre (bit.ly/fJmGMZ). Quem não tinha cópia em outro lugar viu suas mensagens simplesmente evaporarem na “nuvem”.
À LA WIKILEAKS
Outra preocupação é com a privacidade dos dados. Quem usa um serviço de e-mail baseado em outro país fica sujeito às leis de lá. Se uma autoridade desconfiar de você, pode pedir para ter acesso às suas mensagens. Vale o que a lei do local disser, mesmo que a lei brasileira funcione de outra forma. Essa preocupação tem aumentado especialmente depois do caso WikiLeaks. Há quem diga que dados armazenados no exterior possam ser usados até para fazer espionagem comercial (bit.ly/esC1Y1).
O Brasil está fazendo a sua parte para cuidar do problema. Está discutindo a adoção de uma nova lei de proteção aos dados pessoais, que promete resolver a questão por aqui (bit.ly/f3L5H7). Mas não dá para ser ingênuo. Quando um serviço online é utilizado, seja para fins pessoais ou comerciais, é importante saber onde os dados estão sendo armazenados e qual a política de proteção dada a eles tanto pelo próprio site quanto pelas leis locais. Afinal, não faltam bisbilhoteiros querendo dar uma de Big Brother na nuvem.
*Ronaldo Lemos, 34, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br