A Angústia do Tempo
Há um quadro de Salvador Dali em que um relógio vai escorregando por cima uma mesa qual fosse composto por um material maleável. A imagem perfeita do tempo a escorrer molemente. Mas, defasada. O tempo não escorre mais. Ele pulsa, frenético. A ventania com seu debater nervoso é a imagem mais adequada.
Talvez eu esteja adoecido ou, enfim, lúcido. Porque tenho sentido o tempo com todos meus sentidos e a mente em febre. Tenso, atento, com receio de perder qualquer movimento por distração ou cansaço. Hoje tudo é tão complexo que podemos perder o jogo ao menosprezar uma mera jogada. Sinto a pressão ativa do tempo sobre mim.
Porque de verdade, tudo que temos é o tempo. É nele que realizamos nossa vida. E esse tesouro existe a partir de agora até o fim de nossas vidas. Como calcular esse valor se nem desconfiamos quando nos findaremos?
O que aconteceu nos últimos sete anos de minha vida, valeu pelos mais de cinqüenta anteriores. A cada ano que passa tenho a nítida impressão de que no ano anterior procedi como um perfeito idiota. É triste de constatar, mas é preciso dizer.
Há uma pressão absurda com relação ao uso do tempo. A ansiedade é dominante. “Preciso aproveitar melhor meu tempo” é um pulsar constante no cérebro, quase uma vinheta.
“Não, não posso parar
Se paro eu penso
Se penso eu choro...”
E fico a escolher o que de melhor fazer. Durmo muito pouco e rolo na cama a pensar: o que fazer, o que fazer?
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Luiz Mendes
28/02/2011.