As irmãs Amores fabricam as lingeries que usam (e tiram) neste ensaio na casa onde moram
Marcita Amores diz que não gosta de sexo. Camila ama os próprios peitos e Verônica prefere amar os homens. As filhas de uma costureira e de um ginecologista argentino – escritor de contos eróticos – uniram os dotes familiares e montaram uma marca de lingeries, a À Dor Amores. Há dez anos costuram vestes que apimentam os lençóis de suas clientes e ensaios eróticos de revistas. “Não gosto muito de sexo, na verdade. Tenho preguiça. Faço uma vez por semana”, revela a irmã mais velha, Marcita. Claro, sem descartar a eficácia de uma calcinha minúscula: “Quando saio com meu namorado boto um fio dental. É impossível não se sentir bem sendo totalmente desejada pelo seu homem”. Mulher de personalidade forte e mandona, entre quatro paredes Marcita pede arrego: “Na cama gosto de ser totalmente subjugada. Preciso ser dominada. Se o homem não mostra que tem uma força muito maior do que a minha ele não me atrai”.
O trio mora com os pais e seis cachorros numa casa espaçosa em Embu das Artes, na Grande São Paulo. “É qualidade de vida. A gente dorme num silêncio e acorda com os passarinhos”, diz Camila, a mais nova. “Gosto da cidade, do centro de São Paulo, mas é bom saber que temos um refúgio”, completa Marcita. Ela pretende mudar para um sítio com o namorado, Alê. Orquidófilo, ele cultiva cerca de 200 mudas no quintal do sogro ginecologista.
Aos 33 anos, além de desenhar lingeries, Marcita é aspirante a vitrinista. Camila tem 18 e faz faculdade de jornalismo – quer ser atriz e correspondente de guerra. Verônica, a do meio, é vegetariana, artista, grafiteira e, aos 29, acaba de entrar para o curso de desenho industrial no Mackenzie. “Somos adolescentes retardatárias, grudadas à família. Como temos uma empresa familiar nunca tivemos essa urgência de sair de casa para trabalhar”, revela Verônica.
Pai de pijama
Os cachorros, assim como os planos, foram assunto recorrente no dia do ensaio. No intervalo das fotos, vestida de calcinha e blusa transparente, Camila agarra um dos vira-latas enquanto enumera as relações caninas da casa.“ O Chupeta é gay e tem uma queda pelo Peru, que é jurado de morte pelo Bonifácio, o pit bull da casa.” O patriarca da família, metido num pijamão listrado tamanho GG e de chinelo Havaianas, permanece no computador do ateliê, enquanto, nuas, as filhas escolhem a melhor lingerie para as fotos. Ele, ao lado da esposa, acompanha todo o ensaio. “Não tenho vergonha de ficar sem roupa perto do meu pai. Mas nunca passaria numa consulta com ele”, diz Camila. De peitos ao vento e posando para uma foto ao lado do pai de pijama, ela revela o que já estava mais do que desnudo: “Não tenho problemas com a nudez. Meu pai sempre andou pelado pela casa. Ahhh, não tenho pudores, adoro fazer tudo”, completa Camila. “Sempre fui muito sexualizada, nunca tive nenhuma paranoia com o corpo, com o sexo. Me dou muito bem com homens. Adoro homem e sou muito romântica”, conta Verônica.
A mãe, Maria Margarida, deu o mesmo primeiro nome para as três filhas: Márcia Margarida, Márcia Verônica e Márcia Camila. O sobrenome Amores vem de um tataravô austríaco que cantava “canciones de amor” na Argentina. O nome verdadeiro era muito difícil de ser pronunciado pelos latinos, e o europeu adotou o apelido que virou sobrenome.
Com a ajuda da mãe, as três se organizam na produção e venda das peças. “A Marcita está sempre na linha de frente. Quando tem muita mercadoria ela inventa um esquema de levar as peças para algum lugar e vender. Tem essa pujança de ir atrás, de ser guerreira”, orgulha-se Verônica. Puxou a mãe. Aos 14 anos, Maria Margarida saiu de casa rumo à cidade grande. “Minha mãe era de uma família miserável do Pará, de pescadores. Ainda novinha foi para a capital com aquele sentimento de querer mais, de não se contentar com pouco”, completa a filha do meio. Com 15 anos, Margarida já trabalhava como costureira, tinha clientes em Belém e mandava dinheiro para os pais e irmãos. Com a venda das calcinhas elas também ajudam nas contas da casa. As peças das irmãs já vestiram, ou valorizaram, o corpo de muita Trip Girl. E foi justamente para fazer jus ao produto que elas toparam usar as lingeries que criam (e que podem ser encontradas no site www.adoramoresalmadeflores.blogspot.com). “Se conseguir laçar um homem através do erotismo, do sexo, a algema da paixão fica muito mais aprisionada”, sentencia Marcita Amores.
Coordenação Geral Adriana Verani Produção Flavia Fraccaroli Stylist Bianca Bertolaccini Make/ Hair Paulo Ávila Assistente Foto Jozzu / Denise Alves Crédito Moda À Dor Amores www.adoramoresalmadeflores.blogspot.com tel: (11) 4781-4294