ALGO MAIS
Quando cheguei a Camanducáia, descobri que o ônibus havia atrazado e, por conta disso, o outro ônibus em que baldearia para Monte Verde, já partira. Fiquei momentaneamente atordoado. Um silêncio sugava todos os sons. Mas não demorou; uma brisa lenta agitou as folhas que, caladas, restavam caídas na praça. Bendisse os inventores ao palmear o celular no bolso.
Nico parecia um urso de muitos braços a nos envolver em seu calor. Acho que receber é o que ele faz de melhor. Uma alegria genuína em seus olhos, um brilho de ansiedade por nos oferecer o melhor. Ele e Beatriz, sua companheira, começaram a Pousada Nico On The Hill para receber casais de amigos e conseguem que este conceito permaneça. São apenas 6 chalés que eles não pretendem aumentar; optaram por melhorar.
A casa principal, onde o casal recebe amigos hospedados, é especial. Cheia de pequenas peças de artesanato, móveis trabalhados em madeira maciça, flores, detalhes e a coleção de CDs, DVDs e discos do Nico. Passamos horas assistindo e comentando shows de grandes músicos e cantores. Nico possui um diálogo riquíssimo, conhece e gosta do que há melhor. Esse é o algo mais que não se encontra em lugar algum e, acredite, faz toda diferença.
O silêncio serve para muitas coisas, principalmente para curtir natureza e gente. Olhar, olhar, extasiar-se de olhar até dentro do olhar. Espalmar sonhos e alongar o pensamento até a calma do prazer. A natureza exuberante e plácida da região de Monte Verde relaxa a mente aflita e super acelerada de tantos acontecimentos e informações. A vida, como festa, ali se debruça sobre seus afazeres de luz, cores e formas.
As vozes da noite pareciam estar contemplando a eternidade. De dia as árvores roubam a cena com seus galhos cheios de assombro e silêncios voláteis. Estava feliz simplesmente por estar vivo, sentindo, com a respiração cheia, que valeu a pena encarar tudo.
A história, como um estampido, trouxe-me de volta ao mundo e à cidade. O céu, de tão imensamente azul causava vertigem. A tarde se desmanchava em âmbares por cima do verde profundo das araucárias. Sentia-me culpado de alguma coisa que não entendia. Decerto por haver sido feliz ou por haver me dado aquela descabida alegria.
Composto por Luiz Mendes em 12/06/2009.