Empresário cria ONG Parceiros da Educação para levar o mundo empresarial ao ensino público
Em 2004, a Escola Estadual Luis Gonzaga Travassos da Rosa, no Jardim Morumbi, em São Paulo, passava por uma fase difícil: pichações, falta de água, carteiras e lousas danificadas, professores desmotivados, aproveitamento escolar baixo.
Ao mesmo tempo, o empresário Jair Ribeiro aproveitava na cidade um período sabático após encerrar uma bem-sucedida carreira de banqueiro, que incluiu a diretoria do JP Morgan, em Nova York. Inspirado pela adoção de algumas escolas públicas na favela de Paraisópolis pela seguradora Porto Seguro, ele procurava uma instituição para experimentar um projeto parecido.
O encontro entre essas duas realidades foi a semente que gerou a Parceiros da Educação, uma ONG que se dedica a reunir escolas estaduais com empresários dispostos a patrociná-las para melhorar o rendimento escolar dos alunos da rede pública.
É um investimento lento, mas que traz dividendos seguros. No caso da Travassos (como é conhecida), quatro anos depois, o que se vê é uma escola bem-arrumada, salas de aula pintadas em cores alegres (escolhidas pelos alunos), serviço de limpeza terceirizado e uma quadra de esportes que é o orgulho do bairro. Mais escondidos, porém ainda mais importantes, estão os indicadores educacionais: o número de analfabetos funcionais da 5ª à 8ª série, que passava de 100, zerou; a rotatividade de professores diminuiu sensivelmente e, em avaliações padronizadas, o conhecimento dos alunos em leitura e escrita aumentou 19% e em matemática 15%, em média. “A escola agora está um encanto. Ela passou a ser importante para alunos e professores, não temos mais problemas de disciplina”, relata o coordenador pedagógico Celso Renato Teixeira.
Casamento feliz
A partir da idéia de Ribeiro, a iniciativa chegou a 65 escolas do Estado, com cerca de 80 mil alunos atendidos. Os custos, em média, são R$ 100 por aluno ao ano. “Mas dinheiro não é tudo, é fundamental a participação efetiva do empresário”, diz André Drexler, coordenador administrativo da Parceiros.
O trabalho começa na identificação de escolas e empresários, no “casamento” entre os dois, e, depois, no diagnóstico das necessidades de cada escola. “São quatro frentes: a estrutura física da escola, se ela precisa de uma reforma, como estão seus equipamentos; a gestão, como ela está sendo administrada; a parte pedagógica, como capacitação do corpo docente; e, finalmente, o envolvimento com a comunidade do entorno”, descreve Ana Maria Diniz, acionista do Grupo Pão de Açúcar, que capitaneia a ONG com Ribeiro.
É essa análise das necessidades da escola que faz o investimento do empresário, normalmente da ordem de 10% do valor investido pelo Estado, fazer tanta diferença nos seus indicadores. “O governo de São Paulo tem 5.300 escolas; não há como tomar decisões baseadas no que cada uma precisa”, diz a coordenadora Lúcia Fávero. “O que a parceria faz é focar em coisas mais específicas, como a formação continuada dos professores, por exemplo. Nesse sentido, a parceria otimiza o que o Estado já disponibiliza.”
Mas um denominador comum em todas as escolas se faz presente: um profissional chamado de “facilitador”, cuja função é intermediar o discurso de negócios, metas e resultados do empresário com o mundo da educação pública, onde os processos
são mais lentos e institucionalizados.
E, em todas, existe uma figura a ser ganha: a da temível diretora. “A diretora precisa
ser conquistada, sem ela o processo não anda. Aliás, tudo numa escola pública, cada avanço, é uma conquista. O empresário precisa saber disso, entender essa realidade”, explica Ana Maria.
A Parceiros da Educação tem um irmão gêmeo curioso, nascido ao mesmo tempo e fruto do mesmo sabático de Jair Ribeiro: a Casa do Saber, centro cultural que oferece cursos livres e palestras sobre várias áreas do conhecimento, freqüentado pela classe alta e média alta de São Paulo e Rio de Janeiro. A idéia surgiu porque Ribeiro começou a juntar amigos em sua casa para discutir temas de filosofia, analisar filmes e peças, mediados por professores universitários. As reuniões ficaram tão populares que ele logo viu uma oportunidade de negócios, e assim nasceu a Casa. Como a Parceiros, ela é um negócio de estimação do empresário.
“No caso da ONG, trata-se de uma obrigação minha, que é devolver algo à comunidade. Como considero que o maior problema do Brasil é a educação, é nisso que quero investir. Já a Casa do Saber é um hobby, por assim dizer. Com ela eu ajudo as pessoas a terem uma vida mais completa, a maximizar seu potencial”, diz.
Fã do filósofo Baruch Spinoza, o Jair Ribeiro pessoa jurídica é CEO da CPM Braxis, uma empresa de serviços de tecnologia de informação criada durante uma viagem à Índia. Em dois anos de existência, já é a maior de seu setor no país, com 5.400 funcionários, 200 clientes e 14 centros de desenvolvimento de software. Faturou R$ 1 bilhão no ano passado, já passou por três fusões e tem entre seus sócios pesos pesados como Bradesco e Gávea Investimentos.
Se os negócios da CPM Braxis crescem nesse ritmo praticamente exponencial, Ribeiro não deixou por menos: a meta da Parceiros para este ano é chegar a 100 escolas adotadas por empresários, e até 2010, a 500. A educação pública agradece.