por Arthur Veríssimo
Trip #177

Arthur tenta descobrir como Narcisa Tamborindeguy dribla a crise sem cortar o champanhe

Nosso repórter excepcional infiltra-se no high society carioca para descobrir como Narcisa Tamborindeguy, dublê de consultora econômica no programa de Luciana Gimenez, consegue driblar a crise sem cortar o champanhe nem perder a compostura

 

Não é mais preciso consultar o oráculo de Paul Krugman, colunista do New York Times, ou ouvir o economista turco Nouriel Roubini para desvendar o futuro da crise econômica. Nós já temos aqui uma impagável autoridade no assunto: a sorridente, hypada e prestes a se iluminar socialite Narcisa Saldanha Tamborindeguy. Olha só o currículo da madame: filha de família tradicional carioca, formada em direito e jornalismo, fluente em cinco idiomas, frequentadora do circuito Copacabana-Saint-Tropez, organizadora de eventos e festas, Narcisa apresenta semanalmente um quadro de dicas e comentários políticos e econômicos no programa SuperPop, de Luciana Gimenez. Ela também é autora do best-seller Ai, que loucura, em que conta desde a sua vida de mocinha ao bas-fond do jet set nacional e internacional, e do recém-finalizado Ai, que absurdo, no qual se concentra em histórias recentes do babado forte. E ainda tem duas filhas com alguns dos homens mais influentes do país: Marianna é fruto do relacionamento com o diretor de TV Boninho e Catharina, com Carlos Gerdau.

No dia anterior ao nosso encontro no Rio, eu havia entrado em contato com ela para saber aonde iríamos e qual seria o traje para a ocasião. Narcisa polidamente disse ao telefone que éramos convidados para o almoço de família e aniversário de sua sobrinha Nicole, no lendário edifício Chopin, debruçado sobre a praia e colado ao Copacabana Palace. Acrescentou que seria de bom tom o repórter estar elegante, com um belo par de sapatos, jeans e camisa chique.

No sabadão acordei às seis horas e, como águia, voei para a praia. Caminhei refletindo sobre os temas que iria devanear por algumas horas com nossa protagonista: life style, crise, dinheiro, aplicações, festas, sustentabilidade, hedge fund, baladas, Voodoo economics e sabedoria. Cheguei ao apê de Narcisa, no 11º andar, precisamente às três da tarde. O calor me fez fritar na camisa elegante. Suei como numa prática de asthanga. Fiquei um bom tempo sem camisa curtindo uma brisa marítima no janelão da sala de visita. O lar, doce lar, da anfitriã é aconchegante e repleto de fotos e quadros de Narcisa em alguma situação em que seu sorriso prevalece. Aguardei-a por 45 min e saímos direto para o almoço, no apartamento de sua irmã, no quinto andar.

O almoço contava com juízes, ministros, jovens bem-nascidos e a mãe de Narcisa, dona Alice. No fim degustei um delicioso doce de fruta-do-conde, uma receita secreta da família. Manjar dos Tamborindeguy. Retornamos ao apê de Narcisa e começamos nosso fulminante bate-papo, no qual Narcisa não conseguiu parar quieta e brindou a Trip com suas preciosas dicas econômicas e espirituais. Ai, que absurdo!

Narcisa, como é o seu estilo de vida? É muito original, é ser diferente de todos os outros, é me sentir confortável comigo mesma.

E a sua rotina? Eu sou tripolar, uma mistura de borderline com bipolar. Acordo, escovo os dentes, coloco uma roupa bem confortável, vou para a natação, nado bastante e depois faço ioga.

Você já foi rainha do baile de Carnaval do Copa? Fui várias vezes nos anos 80, na época em que o baile começou.

Quem escolhe a rainha? Todo mundo. Fui escolhida por unanimi­da­de, pela simpatia e pelo carisma. [Narcisa levanta do sofá e sai andando.]

Volta aqui, Narcisa. Vamos continuar nossa entrevista. O que é ser elegante? É se sentir bem, é estar com uma roupa bonita. É estar como você está hoje. Bonito, magro, com um sapato bonito. É saber estar de acordo com as ocasiões. Sapato é fundamental. Uma camisa sempre azul. Detesto marrom, sou que nem Roberto Carlos.

Então eu vim direitinho para o encontro. Você veio chiquérrimo, claro!

O que é felicidade na ótica da Narcisa? É ser bonita, magra, inteligente... Feliz e alto-astral.

Estou aqui te entrevistando e você não para quieta, é uma pessoa com muita energia. Tem que ter energia!

Você é carnavalesca? Eu adoro Carnaval. Já desfilei na Grande Rio, em carro alegórico. Eu já desfilei em todos os lugares.

Senta. Eu tô com dor no meu pé. Não tá bem assim?

O que você tem no pé? Infecção nos músculos da planta do pé. Tô fazendo fisioterapia, tenho que me cuidar.

Você já fez promessa e cumpriu? Pode me contar? Não, não dá. Eu quero privacidade.

Por falar em privacidade, você sabe que estamos no meio de uma crise econômica mundial. Muitas pessoas foram afetadas, não só a classe média, mas os ricos e milionários também. De onde vem o seu dinheiro, do que você vive? Vem de coisas que meu pai me deixou, de aluguéis, de renda.

E a grana diminuiu com a crise? Não, tá igual.

Você investe o seu dinheiro? Na Petrobras. Tudo na Petrobras, é a melhor ação. Vamos falar de coisas normais. Você tá muito chato, fica me perguntando de dinheiro.

Você mudou os seus hábitos? Não.

O que você tem a dizer depois do vendaval dos anos 80, do hedonismo dos 90 e dessa megacrise espiritual e econômica? Você acredita que vai passar? Tenho esperança. Tudo passa, é só uma fase.

Você trabalha? Trabalho, esta entrevista é trabalho para mim. Tenho um quadro no SuperPop, sou consultora política.

Você já deu palestra? Já dei palestras no Copacabana Palace para os funcionários. E também em outras ocasiões.

O que você, uma pessoa engajada com a política, acha do Fernando Gabeira? Político super-honesto, votei nele.

E o Lula? Lulão também, animadíssimo. Emprestando dinheiro para o FMI.

Como é sua dedicação ao orfanato Lar de Narcisa? Eu sou a madrinha do orfanato. É tudo de bom, ofereço o que tenho de melhor para as crianças. Até no Cirque du Soleil eu as levei.

Quando ele surgiu? Onde é? Há mais de dez anos. São 150 crianças desprotegidas que vivem em Duque de Caxias. [Ela continua andando pela sala.]

Nos últimos anos você se tornou uma pessoa espiritual, com outros valores? Claro, sempre melhoramos na vida. Dentro de nós temos dois cachorros, um bom e um ruim. Se alimentarmos o ruim seremos do mal. Se escolhermos o bom, seremos do bem.

De onde você tirou essa máxima? Tirei dos meus miolos.

Você continua no mesmo ritmo de baladas? Estou bem mais calma, não tenho mais vontade de ir a tantas baladas como há dez anos.

Agora nós temos uma Narcisa reflexiva, meditativa? É isso mesmo.

O que é necessário para uma festa acontecer? Tem de ter ar-condicionado, a melhor champanhe, gente linda, o melhor DJ, a melhor comida, gente muito chique, políticos, pessoas interessantes, tudo misturado.

E as festas de Saint-Tropez? Você chega lá e te dão banho de champanhe. É como água.

Quais são os lugares imperdíveis no Rio de Narcisa? Bar do Copa, Bar Londra, no Fasano, e Boate 69.

E o golpe “boa noite, Cinderela”? Em Madri, uma amiga linda tava quase caindo no golpe. Tomou um drinque estranho, mas fomos embora do lugar.

Você conhece o Serguei, o roqueiro que foi namorado da Janis Joplin? Claro que conheço, adoro ele. Deve ser muito feliz.

Ele é pansexual. Abraça árvores. Eu também abraço árvore para equilibrar a energia. Temos algo em comum.

Quem é um símbolo sexual masculino para você? Brad Pitt. E Elvis.

Mulheres? Madonna.

Ícones de sabedoria? Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá.

Você coleciona alguma coisa? Sapatos? Não tenho coleção de nada, só minhas fotos. Nunca contei meus sapatos.

Como é o seu silêncio interior? Paz, luz dourada. Não falar nada, só sentir.

Você gosta de massagem? Amo massagem, estou fazendo fisioterapia. Adoro ioga, nós dois fizemos juntos em Búzios, lembra?

Você tá namorando? Não, tô sozinha, é normal você não ter namorado. Quero ter um, me firmar.

Qual foi o melhor lugar que você já conheceu fora do Brasil? Oberoi. [Hotel spa, na praia de Seminyak, em Bali, com 15 acres de jardins tropicais.]

Próxima viagem? Nova York depois Paris.

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