por Ricardo Calil
Trip #171

A mineira Adriana Veraldi revela suas aventuras eróticas com homens e mulheres

Quando vê que o repórter deixou escapar um estereótipo qualquer sobre modelos, Adriana Veraldi interrompe delicadamente com uma citação do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “Não sou eu quem erguerá novos ídolos; os ídolos de outrora já podem advertir-nos sobre o que é e o que significa ter pés de barro! Abater ídolos (eis como eu chamo aos ‘ideais’) é o meu principal ofício”. Estereótipos também são ídolos com pés de barro, explica a modelo mineira, de 21 anos. E ela está disposta a derrubá-los, um após o outro. Nietzsche nunca soou tão sexy.

Como uma anti-Gisele, Adriana tocou fogo na cartilha de bons modos e declarações vazias que as top models precisam seguir. A paixão pela filosofia – ela se diz também leitora ávida de Schoppenhauer e Kant – é apenas a primeira das muitas surpresas que Adriana reserva para a entrevista. Ela afirma não gostar da superficialidade da maioria dos modelos com quem convive e sonha em ganhar a vida no futuro como escritora. Começou a colocar suas histórias e pensamentos no papel com 7 anos, por recomendação de um psicólogo, depois da separação dos pais. Aos 13, já havia escrito o suficiente para preencher um livro filosófico, que ela batizou de Evolução, auto-destruição.

Pouco tempo depois, as inquietações existenciais de Adriana começaram a dividir espaço com as descobertas sexuais – e sua franqueza sobre o assunto também foge do figurino tradicional das modelos. “Sou bissexual”, ela afirma sem rodeios. E quando você descobriu isso? “Sempre soube. Comecei a namorar uma amiga com 14 anos. Transei com ela antes de transar com homens. Foi um escândalo lá na minha cidade, Floresta tem 13 mil habitantes. As pessoas começaram a fazer piadas sobre mim para meu pai.” Em vez de voltar atrás, Adriana dobrou a aposta: cortou o cabelo curto, pintou-o de vermelho, virou o centro das atenções na cidade. “Foi minha fase de rebeldia juvenil.”

MÉNAGE À TROIS
As coisas acalmaram quando Adriana se mudou para São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, e começou a estudar história. Mas ela não deixou sua educação sexual de lado. Convenceu o namorado da época a fazer um ménage à trois com mais uma garota. Adorou o sexo, mas nem tanto as conseqüências. “Ele confundiu liberdade com libertinagem. Depois disso, ele ficava flertando com outras mulheres na minha frente, achando que eu ia gostar.” A relação, claro, não durou muito. Foi em Rio Preto que Adriana começou a trabalhar como modelo. Um dia, ela brincava de desfilar na loja em que trabalhava como vendedora quando um olheiro de agência flagrou sua beleza versátil – ela diz que, “dependendo do sol ou do humor”, seu cabelo pode ser castanho, ruivo ou loiro; e olhos, verdes, cinzas ou mel. Considerada baixa (1,72 m) e não tão nova (19 anos) para as passarelas, ela iniciou uma carreira bem-sucedida em editorais de moda e propagandas de TV. Em pouco tempo, a faculdade cansou, a inquietude voltou, Rio Preto ficou pequena.

Há um ano ela decidiu aceitar o convite de uma agência para se mudar para São Paulo, dividindo um apartamento com outras dez garotas. Aqui prosseguiram as descobertas eróticas de Adriana, em um cardápio que inclui transas entre quatro mulheres. “Gosto de ser a ativa, de percorrer o corpo feminino, de descobrir e de ensinar.” Mas ela diz que prefere os homens. “Eu não voltaria a namorar mulher por causa do gênio. Além disso, elas não me satisfazem afetiva e sexualmente. Fica sempre faltando alguma coisa”, ela afirma, antes de recorrer às palavras de Albert Einstein: “O mais belo sentimento é o sentido do mistério, é a origem de toda ciência verdadeira. Quem jamais conheceu esta emoção, quem não possui o dom de admiração, é como se estivesse morto... Seus olhos estão cerrados”.

BRINCADEIRA DIONISÍACA
Adriana acha que encontrou o pacote completo há dois meses, quando se apaixonou por um engenheiro químico paulistano e, de cara, decidiu viver junto com ele. “É muito bom poder conversar sobre física e ter uma noite de sexo maravilhosa com a mesma pessoa”, ela diz – talvez sem perceber que ela é, por sua vez, objeto dos sonhos da maioria dos homens: uma garota linda que sabe falar sobre filosofia e aceita dividir a cama com outra mulher. Aliás, mesmo bem casada, o assunto não saiu da vida de Adriana. Agora ela quer convencer o “esposo” a experimentar um triângulo sexual; o terceiro vértice, mais uma vez, seria do sexo feminino. Mas o marido ainda está inseguro, com medo de que o sexo abale a relação. “Eu tento explicar que é carnal, sem sentimento. Uma brincadeira dionisíaca.”

Da mesma forma que não tem problemas em dividir seu marido, Adriana não sente nenhuma vergonha em tirar a roupa. “Neste ensaio da Trip, eu conheci o fotógrafo no dia das fotos e meia hora depois já estava pelada”, ela conta rindo. “Eu invento uma história, faço um personagem com um pouco da minha personalidade.” E, assim, a moleca desbocada vira mulher fatal. E o que você estava pensando na hora das fotos? A resposta é mais uma citação: “Faça o que tu queres pois é tudo da lei”. Tudo bem que ela conheceu a frase pela música do Raul – e não no original do mago inglês Aleister Crowley. Ninguém é perfeito.

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