por Luiz Alberto Mendes

 

A dor é a mais comovente das manifestações dos seres animados. Penso, especulo se há dor no mundo inanimado também. As plantas; será que sentem dor ao serem separadas de suas flores? Na floresta, as árvores, segundo a ciência, conseguem se comunicar e prevenir umas às outras, quando atacadas por fungos e bactérias. A mim, a dor salvou. Salvou da insensibilidade, da estupidez, da indiferença, da deselegância e do desrespeito à qualquer forma de vida. É óbvio, não virei santo, herói ou qualquer coisa que o valha, muito pelo contrário. Não virei nada, apenas me tornei mais humano.

Causei dor a outras pessoas, sofrimentos radicais, para dizer o mínimo. Ao lembrar, algo que não sei explicar me atinge como uma pedra, de tão dura. Uma dor tão violenta que chega a alterar a pressão sanguínea; minhas mãos começam a tremer e tenho uma espécie de taquicardia que demora a passar. Depois, uma depressão acaba comigo por horas, saio dessas imersões na consciência, totalmente esgotado.

Mas, principalmente, fiz muito mal a mim mesmo. Em última instância, sou responsável por cada uma das dores que vivenciei. Mergulhei (e fui mergulhado) no mais profundo sofrimento. Vivi no paroxismo da dor incontáveis vezes. Passei por quase todo tipo de tortura física e mental que a torpeza da mente do homem pode conceber. Vivi a miséria humana em sua mais abjeta categoria. Passei décadas sob a tutela de pessoas doentes, sádicas, que ansiavam por fazer sofrer. Sofri humilhações que ainda doem lá no fundo da alma todas as vezes que são lembradas. Quando escrevi meus três livros autobiográficos (um ainda na Cia das Letras), revivi cada momento de sofrimento dolorosamente. Eu que imaginava haver secado a fonte das lágrimas, escrevi alguns capítulos chorando, desesperado com aquela sofrência que ainda mora em mim. Foi extremamente difícil; uma cartase radical que não adiantou nada porque é só lembrar para novamente doer.

Na verdade, as dores são eternas. O único alívio, que cai como um refrigério nesses momentos, é pensar nas coisas boas que também consegui fazer e viver até agora. Não foram tão numerosas e não fizeram a diferença como eu desejaria, mas sei que tiveram alguma importância. E, aos 61 anos de idade, estou pleno e ainda com ardentes esperanças de realizar outras ações.

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Luiz Mendes

24/03/2014.  

 

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