A Reação
Ontem fui almoçar com minha sobrinha que trabalha em um banco na av. Paulista e depois fui me dar prazeres. Percorri alguns sebos que conheço no centro de São Paulo, em busca não de novidades (seria uma contradição), mas de coisas velhas, até usadas. Voltava pela rua Barão de Itapetininga com a cabeça nas nuvens, curtindo mentalmente já os DVDs e CDs antigos que havia comprado. Peguei um perfil de Luiz Melodia com todas as suas músicas e interpretações mais importantes em dois CDs, baratíssimos. Alguns shows, tipo "Lady Soul" com várias cantoras de soul americanas e uma "blues session" com B.B. King e seus amigos, um conserto clássico. Então passou uma mulher correndo pelo meu lado direito. Atrás dela vinham dois homens enormes. Ela caiu fora da calçada, já na av. Ipiranga, de frente à Praça da República.
Quando seus perseguidores a alcançaram, ela já estava no chão e quando eles a agarraram, ela se encolheu em uma posição fetal gritando alto. Cheguei perto atraído pelos gritos. Um dos grandalhões a segurava no chão e outro lhe torcia o braço. Nesse tempo chegou uma moça dizendo que só queria a peça que a mulher pegara; eles poderiam solta-la depois. O que deu para entender é que a mulher estava roubando algumas peças de vestuário e correra ao ser surpreendida. Aqueles brutamontes deviam ser os seguranças da loja. Percebi; a mulher fazia a cena do louco a fim de escapara ao flagrante e ficar com o produto do roubo, pois enfiara para dentro das calças. Os seguranças lutavam para tomar as peças roubadas.
Não tinha nada que me meter naquilo. Cada qual em seu quadrado. Mas o moreno grandão que torcia o braço da mulher estava exagerando e ia lhe quebrar o braço. Não aguentei, entrei fingindo ser advogado. Tenho um documento que é do Conselho da Cidadania da Cidade do qual fui membro por dois anos, mostrei e falei alto que eles não podiam fazer aquilo. Eu era advogado e a lei diz que eles não podiam ficar torturando ninguém daquele jeito. O moreno forte que torcia o braço da mulher soltou-a e veio para cima de mim. Aproximou-se e vinha com intuito de tentar um golpe de surpresa. Como não sou bobo, fui afastando, não ia tomar cabeçada na cara, mas também não ia me intimidar. Continuei dizendo que era errado e já liberei a bolsa com os DVDs e outras coisas duras que comprara, no jeito. Daria com ela na cabeça do sujeito, caso ele me agredisse. Tenho 61 anos, não dá mais para ficar encarando esses jovens fortes na mão. A multidão juntou, mas ninguém falou nada, só olhavam. Mas aquilo e minha determinação afastaram o sujeito que voltou para o lado da mulher.
Então foi a vez do parceiro dele. Veio para cima também mas querendo somente intimidar e como não me calei, ele disse que era polícia. Não acreditei e disse na cara dele. O sujeito levantou a camisa e mostrou uma arma automática na cintura. Claro, ficou mais fácil perceber que ele não era polícia coisa nenhuma. Polícia anda com arma no coldre, na cintura o ácido do suor estraga a arma. Forcei a barra exigindo o documento de polícia. O sujeito ficou possesso, mas não mostrava documento. Foi minha vez de gritar e fazer a cena do louco. Virei para o povo e disse que ele estava fingindo ser polícia, que chamassem policiais de verdade. O falso policial sacou da arma, atravessei a rua (não ia ficar na frente da arma) e de lá continuei gritando e agora já xingando. Nisso vejo os policiais chegando pela av. Ipiranga. O sujeito da arma guardou-a e junto com o moreno alto furaram o círculo de povo que assistia e caminharam quase correndo pela Barão de Itapetininga. O povo orientava os policiais e eu aproveitei para entrar na praça e ir direto para o metrô. Caramba... Acontece de tudo comigo!
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Luiz Mendes
07/10/2013