Quer dizer: hoje é normal, aceitável, que se mate 10 pessoas por 100 mil habitantes de qualquer cidade
Estava lendo o jornal O Estado de S. Paulo (alguns dirão: bem feito!) quando um texto assinado por Adriana Carranca me chamou a atenção. “Tragédia brasileira” era o tema, em vermelho. A manchete afirmava que os homicídios no Estado de São Paulo estão perto da média mundial. São Paulo completará três décadas, de 1979 a 2008, com índices inferiores à média mundial. A média mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde, é de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Quer dizer: hoje é normal, aceitável, que se mate 10 pessoas por 100 mil habitantes de qualquer cidade. São Paulo chegará ao índice de 9,9 assassinatos por 100 mil em novembro deste ano. Em 1999 atingimos o “pico”, como dizem os estatísticos: 12.818 crimes no ano. Desde então, os índices demonstram queda acentuada. Explicam os “especialistas” que isso foi graças ao Estatuto do Desarmamento, às melhores gestões policiais e, pasmem, ao aumento das prisões.
A confirmar-se dados estatísticos, São Paulo terá reduzido seus homicídios em 62%, desde o fatídico ano de 1999. Parabéns, São Paulo!!! Paulistanos e moradores da cidade que mais cresce no mundo, nós estamos de parabéns! Conseguimos! Puxa, até que enfim uma realização de peso. Fiquei orgulhoso de ser paulistano. Não são muitas as vezes que se pode comemorar algo nesta cidade, vamos aproveitar. Agora sim deveríamos ocupar a avenida Paulista para comemorar. Isso sim é uma vitória significativa para uma cidade.
Tudo bem essa parte, fiquei contente de verdade. Mas, como dizem, alegria de pobre dura pouco. A análise dos motivos alegados me entristeceu tanto que a única alternativa foi escrever. Precisava falar. Quando escrevo, minha voz ecoa liberdade e vai muito mais longe. Até concordo que o Estatuto do Desarmamento colaborou. Mas, se em vez de não, no plebiscito (e nós da Trip fizemos campanha pelo sim, lembra?), fosse sim, com certeza os números de redução dos homicídios seriam menores ainda. Perdemos a oportunidade. Salve a maioria e o lobby dos fabricantes e vendedores de armas!
A melhor gestão policial é questionável. As 174 mortes de maio de 2006 pesaram bastante nos índices. Não houvessem ocorrido São Paulo chegaria a 9,8 mortes por 100 mil habitantes, ainda esse mês. A maior parte das mortes do que chamam de “Ataque do PCC” foi causada por policiais. Foram as retaliações e represálias ao ataque que mais causaram mortes. E pior, promovida por aqueles cuja função é fazer com que a lei seja cumprida. Ou seja, eles não acreditam no que fazem.
Os tais especialistas “desconfiam” que o aumento do número dos presos, que subiu 91% (de 80 mil para 153.274, nos últimos 30 anos), seja um dos maiores responsáveis pela queda crescente dos homicídios e não ações sociais de longo prazo. Até onde eu sei, é depois que mata que vai preso. Prender mais não significa que houve mais delitos? Ou será que prendendo mais se evita que aqueles que já cometeram homicídios cometam outros? O que dizer do povo encarcerado do PCC, que em maio de 2006 pesou tanto nas estatísticas? Não acredito. A maior parte dos crimes é de natureza passional. Os de natureza criminal são minoria em qualquer estatística.
Quer dizer, o trabalho de ONGs, OCIPs e institutos na luta contra a violência no Estado não significou nada nessas estatísticas? O que o povo da USP fez no Jardim Ângela não foi nada? O Instituto Sou da Paz, o São Paulo Contra a Violência, o Núcleo de Estudos da Violência, o Instituto Ecofuturo: o Cáritas, a Casa do Zezinho, a Santa Fé, o Instituto Rukha, o Ashoka e um monte de outras entidades e organizações que lidam com violência, educação, cultura, cidadania, promoção social, proteção a minorias não contam? E o trabalho gigantesco que lhes sobra da ineficiência governamental não vale nada nessas estatísticas?
Vivo em contato com essas entidades citadas e sei o quão injusta e mentirosa foi a conclusão dessa estatística. Isso para não dizer desonesta e arbitrária. Absurda, no mínimo deselegante para qualquer um que a assine.
Quer dizer: hoje é normal, aceitável, que se mate 10 pessoas por 100 mil habitantes de qualquer cidade. São Paulo chegará ao índice de 9,9 assassinatos por 100 mil em novembro deste ano. Em 1999 atingimos o “pico”, como dizem os estatísticos: 12.818 crimes no ano. Desde então, os índices demonstram queda acentuada. Explicam os “especialistas” que isso foi graças ao Estatuto do Desarmamento, às melhores gestões policiais e, pasmem, ao aumento das prisões.
A confirmar-se dados estatísticos, São Paulo terá reduzido seus homicídios em 62%, desde o fatídico ano de 1999. Parabéns, São Paulo!!! Paulistanos e moradores da cidade que mais cresce no mundo, nós estamos de parabéns! Conseguimos! Puxa, até que enfim uma realização de peso. Fiquei orgulhoso de ser paulistano. Não são muitas as vezes que se pode comemorar algo nesta cidade, vamos aproveitar. Agora sim deveríamos ocupar a avenida Paulista para comemorar. Isso sim é uma vitória significativa para uma cidade.
Tudo bem essa parte, fiquei contente de verdade. Mas, como dizem, alegria de pobre dura pouco. A análise dos motivos alegados me entristeceu tanto que a única alternativa foi escrever. Precisava falar. Quando escrevo, minha voz ecoa liberdade e vai muito mais longe. Até concordo que o Estatuto do Desarmamento colaborou. Mas, se em vez de não, no plebiscito (e nós da Trip fizemos campanha pelo sim, lembra?), fosse sim, com certeza os números de redução dos homicídios seriam menores ainda. Perdemos a oportunidade. Salve a maioria e o lobby dos fabricantes e vendedores de armas!
A melhor gestão policial é questionável. As 174 mortes de maio de 2006 pesaram bastante nos índices. Não houvessem ocorrido São Paulo chegaria a 9,8 mortes por 100 mil habitantes, ainda esse mês. A maior parte das mortes do que chamam de “Ataque do PCC” foi causada por policiais. Foram as retaliações e represálias ao ataque que mais causaram mortes. E pior, promovida por aqueles cuja função é fazer com que a lei seja cumprida. Ou seja, eles não acreditam no que fazem.
Os tais especialistas “desconfiam” que o aumento do número dos presos, que subiu 91% (de 80 mil para 153.274, nos últimos 30 anos), seja um dos maiores responsáveis pela queda crescente dos homicídios e não ações sociais de longo prazo. Até onde eu sei, é depois que mata que vai preso. Prender mais não significa que houve mais delitos? Ou será que prendendo mais se evita que aqueles que já cometeram homicídios cometam outros? O que dizer do povo encarcerado do PCC, que em maio de 2006 pesou tanto nas estatísticas? Não acredito. A maior parte dos crimes é de natureza passional. Os de natureza criminal são minoria em qualquer estatística.
Quer dizer, o trabalho de ONGs, OCIPs e institutos na luta contra a violência no Estado não significou nada nessas estatísticas? O que o povo da USP fez no Jardim Ângela não foi nada? O Instituto Sou da Paz, o São Paulo Contra a Violência, o Núcleo de Estudos da Violência, o Instituto Ecofuturo: o Cáritas, a Casa do Zezinho, a Santa Fé, o Instituto Rukha, o Ashoka e um monte de outras entidades e organizações que lidam com violência, educação, cultura, cidadania, promoção social, proteção a minorias não contam? E o trabalho gigantesco que lhes sobra da ineficiência governamental não vale nada nessas estatísticas?
Vivo em contato com essas entidades citadas e sei o quão injusta e mentirosa foi a conclusão dessa estatística. Isso para não dizer desonesta e arbitrária. Absurda, no mínimo deselegante para qualquer um que a assine.