Projeto SP Invisível traz para as redes um diálogo com pessoas que nós quase nunca ouvimos

Há camadas da população que ignoramos completamente, que a maior parte das pessoas finge simplesmente não existir, a não ser como inconveniência. Um exemplo: os moradores de rua. Foi para mostrá-los que os universitários Vinicius Lima e André Soler criaram no começo do ano o SP Invisível, um perfil nas redes sociais atualizado com fotos e histórias de quem vive nas ruas de São Paulo. “A ideia é que as pessoas comecem a olhar para esses moradores de rua de forma diferente. Eles são invisíveis porque não conhecemos suas histórias, a sociedade tem um prejulgamente de quem eles são ”, diz André. “A gente dá voz, e queremos que as pessoas nas ruas escutem, que as pessoas falem com eles.” Já são mais de 80 mil seguidores no Facebook e o projeto foi replicado em outros cidades, como Rio de Janeiro e Curitiba. “A sociedade está muito individualista, precisamos conversar, enxergar quem está do nosso lado”, diz André.

Vai lá facebook.com/spinvisivel

 

“Meu nome é José, tenho 62 anos e a galera me chama de Pelé. Eu não moro mais na rua, já morei e com muito esforço consegui sair. Trabalho com reciclagem, fico o dia todo catando papelão, latinha, plástico. Assim eu junto um dinheiro pra sobreviver e ajudar minha mulher. Tô juntado há 18 anos com a Severina, temos dois fi lhos e três netos. Quando eu morava na rua fumava e bebia muito, mas faz 30 anos que não coloco uma gotinha na boca. Aí, com o dinheiro que começou a sobrar, fui juntando pra sair da rua. Foi difícil! Foi mais duro que a época que eu passei no exército. Se eu disser pra você que sobra dinheiro, tô mentindo. Mas a vida tá até boa pra quem veio da roça.”

 

“Oi, moço, como vai? Meu nome é Ademilde e sou lá da Bahia. Quando eu cheguei em São Paulo, fui morar com uns parentes, mas não deu muito tempo e eu fugi, fui pra rua. Na rua eu tive cinco filhos, mas perdi dois maridos pra umas sem-vergonha aí. Primeiro conheci um boliviano que tive dois filhos, mas perdi eles pro juizado e o Bolívia pra uma menina aí que mexia com magia negra e tirou ele de mim. Depois conheci um alemão e tive mais três filhos, mas perdi também as crianças pro juizado e o marido pra uma piranha. Hoje, não moro na rua, moro com uma amiga e venho todo dia na praça vender doce pra ajudar ela. Meu maior sonho é ver todos meus filhos de novo juntos.”

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