Valor, Amor e Liberdade
Escrevo como quem se liberta, diria o poeta. Foi Clarice Lispector quem abriu minha mente ao dizer que “escrever é minha liberdade no mundo”. Eu estava preso a mais de 30 anos e de repente estava atingindo as pessoas lá fora com meu livro “Memórias de um Sobrevivente” e minhas colunas na Revista Trip. Era mágico! Aquilo me enchia de euforia, uma alegria imensa invadia minha alma a cada comentário sobre meu livro e meus textos. Depois sai da prisão, publiquei outros livros, tenho até um livro (“Tesão e Prazer”) traduzido para o alfabeto cirílico e publicado na Rússia. E foi a tradução desse livro que me trouxe a certeza de que minha liberdade tinha pouco a ver com ir e vir. Tinha mais com expansão da minha pessoa no mundo. Senão vejamos: Vamos, na imaginação, para a Rússia agora. Inverno total; as pessoas ficam meses debaixo de camadas e camadas de neve e gelo. Então alguém abre meu livro, lê algumas paginas, fica excitado e vai procurar companhia para aconchegar-se, amar e ser amado. Eu estou exatamente lá quando isso acontece. Estou fazendo parte daquilo. Agora são quatro livros publicados. De certo estarão espalhados em bibliotecas, casa, sebos, instituições e por ai. Exatamente nesse momento pode ter alguém lendo um texto meu. Estou ali expandido também. A revista Trip publica cerca de 70 mil exemplares por mês. Mesmo quem não gosta têm que admitir; a revista é muito bem feita. Ninguém joga no lixo depois de ler. Quase todos guardam, ou dão para alguém (quando não “some”). Quando alguém abre a revista em minha coluna, é exatamente ali que estou; em cada letra que escrevi. Porque quem escreve impregna seu texto com seus sentimentos. Aconselha-se ler até para o bebê dentro da barriga da mãe. Ele, evidentemente, não entende nada, mas sente tudo o que a mãe sente ao ler. E eu escrevo absolutamente envolto na paixão do tema que estou discorrendo. Colo nas palavras toda emoção que sou capaz de gerar. Por isso nem sempre sou equilibrado, justo ou correto. Sou escritor apenas, uso o banheiro como todo mundo. E quanto mais sou lido mais me emociona escrever. Quem me lê, me liberta. Liberta de todo o passado doloroso e do presente instável. Faz com que eu flutue na alegria de ser lido e bem querido. Conheço muita gente que lê ou leu meus textos. Todos me emocionam muito quando falaram de suas emoções ao lerem o que escrevo. É libertador porque me dão valor. No fundo, o que todos nós precisamos é ter valor. Para nós mesmos, é claro, mas há um prazer imenso no valor que as outras pessoas nos dão. Valor pode até ser confundido com amor, até rima. Um é a consequência do outro. E escrever me dá isso: valor, amor e liberdade!
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Luiz Mendes
10/10/2012.