A palavra desobrigou-se do ato

por Luiz Alberto Mendes

 

Envoltórios

 

 

A luz atinge a parte externa dos objetos e não penetra, apenas os reflete em expansão. Do objeto, a luz viaja para o cristalino de nossos olhos à absurda velocidade de 300.000 quilômetros por segundo. É então que se dá o fenômeno da visão.

Provavelmente é por isso que vivemos em um mundo de envoltórios, onde a forma é mais importante e o conteúdo perdeu o significado. Nossos sentidos não nos dão mais certeza de nada. A parte interior de tudo só poderá ser vista depois sob outros processos de leitura. Mas o que é o depois senão inexistência? Só o agora existe, segundo o pós-modernismo. A palavra sem sentido saiu do mercado, dominou a política, concretizou a poesia e ameaça contaminar as relações mais comuns.

Assim a palavra desobrigou-se ao ato, ficou só na fala e na esperança de quem nela confiou. O presente divorciou-se do passado e vai se impondo, descontínuo, descolando-se do futuro. Os meios acabam não tendo mais nada a ver com os fins e a realidade vai sendo expulsa da memória por consequência. Aceitamos por melhor aquilo que é menos pior e perdemos a noção de excelência. A injustiça de antigamente se tornou mais injusta ainda e o que era arriscado tornou-se extremamente perigoso.

Não se preocupe; a luz continuará sua hiper-veloz viagem pelo espaço, refletindo nos objetos e o mundo não vai acabar em 2012. Mas que vai ficar em cacos, lá isso vai sim!

                                    **

Luiz Mendes

13/12/2011.

              

 

 

fechar