Ainda há pouco assisti no National Geographic, programa sobre um grupo de chimpanzés que vivia em cativeiros dentro de laboratórios do governo norte americano. Esse tipo de macaco serve de cobaias para experimentos chamados de científicos. O governo americano havia liberado esse grupo e fornecido verba a uma fundação para mantê-los. Saia mais barato que mantê-los em jaulas de laboratórios. Havia uma cláusula: caso surgisse necessidade, o governo os convocaria novamente.
O Chimpanzé é o animal mais aproximado de nós, seres humanos. Cerca de 98% de suas células são idênticas às nossas. Seu corpo funciona muito parecido com o nosso. Vive em comunidades, sabem ser amorosos, carinhosos e possuem vínculos familiares semelhantes aos nossos. Possuem uma psicologia e uma racionalidade rudimentar, aprendem muito fácil e sabe mexer com ferramentas. Darwin jamais afirmou que fôssemos descendentes dos macacos. Disse apenas que somos parentes do macaco, viemos da mesma árvore familiar. E, os cientistas acreditam que o parente mais próximo do homem é o chimpanzé.
Esses chimpanzés haviam sido capturados (o governo diria “recrutados”) na selva no começo do aparecimento do vírus do HIV. Foi neles que se perpetraram todas as experiências de vacinas contra o vírus. Inutilmente, diga-se de passagem. Claro, antes haviam sido expostos à super contaminação do vírus. As experiências cessaram quando os cientistas descobriram que o chamado “vírus inteligente” permanecia positivo, mas não se desenvolvia naquele tipo de macaco. Agora estavam com a fundação que cuidaria deles.
Mas o que me emocionou mesmo foi a história de um dos macacos, o Billie Joy. Arrancaram todos seus dentes quando era de circo, para que não fosse agressivo. Depois que o governo o comprou, viveu cerca de 30 anos em cativeiro de jaulas. A emoção foi profunda, ao ponto de até correr algumas lágrimas, quando os especialistas expunham os problemas que o macaco vivia. Eram quase todos parecidos com os problemas que vivi ao sair da prisão após mais de 30 anos preso. A sensação de estar sendo perseguido; achar que os outros estão encarando demais; a necessidade de isolamento; a imensa dificuldade de me relacionar com as outras pessoas; a tristeza repentina e sem motivo explicável para os que estão de fora; angústia profunda por causa disso tudo; e solidão. Solidão, solidão e solidão. E havia muita gente amiga querendo me ajudar.
No caso desse chimpanzé, existem especialistas tratando de sua adaptação ao espaço amplo, de sua introdução no bando e outros problemas que ele exibe. Há todo um cuidado, mas tem sido muito difícil para ele. Demorou um tempão para conseguir sair do chão de concreto ao qual estava habituado a viver, para o chão de terra e grama. Ele desenvolveu amizade com as pessoas que tratam dele, mas não dos outros chimpanzés. Esta mais habituado ao homem que a seus pares. Isola-se, triste na jaula, por opção. Depois de certo tempo, encontrou um amigo. Outro macaco velho e sofrido como ele. Agora, já há bastante tempo do começo de sua adaptação, começa a se relacionar melhor, mas sempre voltando à sua jaula e seu amigo.
Sabem, senti a maior compaixão pelo chimpanzé. Doeu dentro de mim todo o sofrimento que ele passou e as consequências em sua readaptação a uma vida mais livre. Jamais faria isso com animal algum. Não tenho essa “coragem”. Achei-o demasiadamente parecido comigo e não me sinto nada vexado por isso: um lindo animal!
**
Luiz Mendes
26/05/2014.