A esperança que mata

por Luiz Alberto Mendes

 

Esperança

 

A esperança pode ser a ultima a se extinguir. E se extingue também, é preciso dizer. E, ainda assim, é possível sobreviver. Somos seres adaptáveis, por isso predominamos. Mas, a esperança pode acabar com a vida de um homem também.

Pensam que sobrevivi há mais de 30 anos de prisão por ter esperanças de um dia sair? Sinto dizer, mas foi exatamente por não alimentar esperanças que sobrevivi até alcançar a liberdade. Lutava desesperadamente para não me permitir a esperanças. Elas eram vazias. Não me deixei levar por sonhos loucos e busquei conservar a lucidez o tempo todo. Do que consegui conservar, tento fazer bom uso e espero tenha sido suficiente. Observei vários companheiros enlouquecerem por conta de esperanças desfeitas.

Lúcido era pensar que não importava quando sairia. Importava valorizar o que eu conseguia cavar para viver o máximo que pudesse ali dentro mesmo. Era tudo o que eu tinha. Rua era ilusão. A janela por onde enxergava o mundo lá fora era apenas quadro que mudava de cores. Mesmo quando passava o metrô, era apenas mais uma composição do quadro a cada cinco minutos. Às vezes chegava ao cúmulo de pensar e sentir que nascera e morreria dentro de grades.

Esperança matava. Como matou a muitos que não conseguiram chegar ao final da jornada, inteiros. Não se morre somente da vida. Nossos sentimentos podem ser liquidados. Nossa lucidez extinta. Ou ainda podemos nos alienar na estupidez por conta de esperanças desfeitas.

A esperança é parecida com otimismo. Pode ser ótima aliada, assim como pode ser a fera que nos desarticula. Por conta disso, aprendi que é preciso cuidado e como tudo na vida, usar com parcimônia e critério.

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Luiz Mendes

10/01/2012.        

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