A Amoreira
Caminhando por um caminho de terra, de repente percebi, até sem querer, que havia passado por uma pequena amoreira, sem reparar. Talvez porque tinha tempo e estava a passeio, cismei em voltar para olhá-la. De frente a ela, comecei a admirar sua beleza verde clara de planta nascente. O vento agitava suas folhas pequena ao sol. Continuei insensível, achando-a apenas bonitinha. Até que, meio estupefato, descobri em uma de suas folhas maiores, uma gota de orvalho guardada da noite, atingida por um raio único de sol. Sua limpidez, na minha frente, sem pudor algum, invadida pela luz solar, qual uma lente, prismava e devolvia a luz branca em múltiplas cores. Tons e subtons avermelhados tendiam ao laranja e depois desmanchava-se em um amarelado. Uma cor azul-violeta emoldurava as pontas da folhinha. Tudo tinha um leve movimento, sumindo no ar aquecido aos poucos. Fiquei ali feito bobo a contemplar aquele cambio de cores até que a folha voltasse a ser apenas verde clarinha. Minha alma iluminada de compreensão me fazia sorrir lentamente. Quanta vida perdida, quanta beleza, quanta maravilha sequer imaginada me cercava e eu não conseguia enxergar. Quanto tempo perdido em vãs cogitações como um cavalo com viseira e o que era realmente importante ali, me envolvendo em abraços sem que eu ao menos suspeitasse. É duro ser um homem; perde-se os movimentos mais amorosos da vida.
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Luiz Mendes
20/10/2015.