por Luiz Alberto Mendes

 

 

Gostei muito desse jogo do Brasil x Alemanha. No começo estava chato. Aquele joguinho rato e gato, a bola de lado, tentando trazer o adversário para o ataque. Ninguém é mais bobo. O futebol de hoje em dia é Neimar, é Klose, é Messi; ou seja, objetividade e gol. O gol é a finalidade do futebol; as duas equipes lutam entre si para chegarem ao gol e não têm outra saída. Ou é gol ou não é nada. E os jogadores ou aprendem isso ou voltam da Europa fracassados como muitos. Mas depois que Alemanha começou a marcar gols seguidos, relaxei do sonho de ser campeão do mundo e comecei a gozar, como em um estupro. Curti o jogo, estava com meus dois filhos no quarto deles, o mais velho (19 anos) torcia comigo por mais gols, bem mais gols.  

Na minha coluna da Revista Trip deste mês, escrevi que “os únicos jogos que me atraem são os da Seleção Brasileira. Vivo intensamente cada segundo de jogo, detesto empates, placares acanhados e se for para perder, tem que ser de bastante.” Querer perder de bastante é perder sem dúvidas. Assumir que não éramos capazes de vencer, que tentamos e perdemos feio, é uma forma de defesa da dor da derrota. Duro é quando perdemos sem convicção, só porque um tem que perder, achando que poderíamos ter ganho, iludidos com a ideia da sorte e azar nas competições. Derrotas assim passam travando pela garganta, nos sentimos inconformados. Isso de “foi por pouco”, acaba com a gente. No esporte, ou se é tudo ou se é nada.

Futebol nunca teve significância nenhuma em relação ao que tem significado. É apenas uma diversão de fim de semana, nada mais que isso. Não pode e nem deve ser a “paixão nacional” tão incentivada pela mídia. Marx dizia que a religião era o ópio do povo, e, em sua época era mesmo. As religiões, a esse tempo, compunham com a aristocracia. Hoje ainda tem disso de entorpecer, mas já há uma opção pelos mais desfavorecidos; é bem diferente. O futebol não pode substituir a antiga religião e ser a maconha, a pinga e a cerveja do povo. Nós devíamos ter paixão pelo desenvolvimento cultural, educativo de nosso povo e torcer completamente por isso. Vivemos em um país deseducado, com uma cultura acanhada, entretanto, os estrangeiros nos vêm como amáveis, amistosos, generosos e amigos. É porque só nos visitam, não vivem nosso cotidiano. Mandela dizia que para se conhecer um país, é preciso ver como os presos, as pessoas sociais de pior expressão e status, são tratados. Concordo, mas acho que para avaliar um país é preciso também conhecer suas escolas, seus métodos de ensino e a quantidade de investimentos realizados na educação. O esporte é uma das “matérias” da educação. O futebol é apenas uma das inúmeras atividades esportivas e como tal devia ser considerada. A hiper valorização do futebol é produzida por aqueles que têm lucro com isso, via marketing.

Não sou idiota para afirmar que foi bom perder. Não foi nem um pouco. Foi duro ver aqueles bestalhões, metidos a jogadores de futebol, tomarem aquele vareio de bola vestindo a camisa da seleção do nosso país. Fui cruel com eles. Quis, ali na hora, que perdessem de muito, que fossem esculachados, para que nunca mais se metessem a jogadores de futebol. Egoísta, quis acabar com eles, mesmo que para tanto o país fosse humilhado. Já hoje, vendo as fotos da desolação, da agonia que cada um deles viveu ali no campo, deu dó. Claro que têm culpa pela derrota, mas estavam atarantados, perdidos, envergonhados e sem saber para onde olhar. E são tão jovens, tão cheios de vida e esperanças...

Ao fim e ao cabo, perdemos e sofremos todos nós brasileiros, tomara consigamos aproveitar algumas lições desta derrota. Quiça, dar menos importância a esse tipo de esporte, valorizando outras modalidades esportivas e outras áreas da cultura e da educação.

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Luiz Mendes

09/07/2014.

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