Robert Rodriguez fala à Trip sobre Sin City
por Bruna Bittencourt
Frank Miller sempre rejeitou cineastas. Talvez por ser mestre em sua arte ? quadrinhos ? não acreditava em transformá-la em filmes. Disse não para propostas de Steven Spielberg e Sam Raimi rodarem sua obra. Mas mudou de idéia em cinco minutos olhando para o laptop de Robert Rodriguez. O diretor de El Mariachi e Um Drink no Inferno sabia que não bastaria simplesmente pedir a Frank para adaptar a clássica graphic novel Sin City.
Por isso preparou em vídeo uma amostra do que tinha em mente ? ser absolutamente fiel à HQ e filmar cada ângulo desenhado pelo artista. Sua pretensão deu tão certo que Frank topou co-dirigir o filme assim que acabou de ver o breve piloto. Rodriguez e Miller usaram apenas câmeras digitais de alta definição no set, e, como nos quadrinhos, quase tudo é em preto-e-branco, com um ou outro detalhe colorido. No elenco, Bruce Willis, Benício Del Toro, Jéssica Alba e o desenterrado Mickey Rourke. A bagatela de US$ 45 milhões gastos já renderam US$ 73 milhões em 11 semanas de exibição nos EUA. A dupla já prepara o segundo da série e Frank prometeu um roteiro inédito da Cidade do Pecado para um terceiro episódio.
O filme que estréiou no Brasil no fim de julho é considerado uma revolução cinematográfica. Rodriguez redescobriu como filmar HQs e, também, conseguiu provar que câmeras digitais podem ser tão, ou mais, dramáticas quanto a película. Trip trocou umas palavras com Robert Rodriguez, o homem que transformou um clássico dos quadrinhos em um novo clássico do cinema.
Por que você escolheu adaptar Sin City entre tantas outras graphic novels?
Sempre admirei os diferentes tipos de quadrinhos, mas o trabalho de Frank simplesmente me derrubou. E Sin City tem o melhor traço que já vi. A forma como Frank usa apenas preto-e-branco, muito ocasionalmente outras cores, é inacreditavelmente detalhada. Era pura linguagem de filme noir, como eu nunca vi, com exceção dos filmes das décadas de 40 e 50. Comprei o primeiro episódio de Sin City em 1991 para aprender e alcançar sua arte. Na época, eu fazia uma tira de quadrinhos para um jornal.
Como foi encontrar e convencer Frank Miller a deixar você filmar Sin City, algo que nem Spielberg conseguiu?
Esperei até que a tecnologia do cinema se equiparasse ao trabalho de Frank. E me certifiquei de que eu tivesse muito conhe-cimento sobre efeitos especiais antes de procurá-lo. Então, filmei um pequeno teste com as novas câmeras de alta definição para mostrar a ele que podíamos fazer o filme exatamente como são suas imagens. Frank fez comigo a seqüência de abertura do filme, assim ele pôde entender como seria. Frank assinou depois disso.
O roteiro de Sin City é o de um filme noir. Você é um fã do gênero?
Eu amo filmes dessa época. Sempre quis fazer o meu Kiss Me Deadly [A Morte num Beijo, de Robert Aldrich, 1955] e sabia que filmar Sin City seria a melhor forma de o público de hoje se interessar em assistir a um filme em preto-e-branco com diálogos noir.
E a idéia de filmar cada quadro da HQ?
Esse sempre foi o plano. A HQ Sin City era o melhor filme escrito, dirigido, fotografado que nunca tinha chegado às telas. Conheço muito sobre efeitos visuais e os testes nos convenceram de que poderíamos fazer algo único e, ao mesmo tempo, fiel ao material original.
Você acha que Sin City é uma virada em sua carreira?
Minha carreira sempre foi uma escalada passo a passo. Inconscientemente, me preparei tecnicamente para fazer Sin City. Eu acho que é um marco no cinema porque mostramos para as pessoas aonde filmes com câmeras de alta definição podem chegar. É uma época excitante na indústria porque, mais do que nunca, existem escolhas. Filmar em película não é o único caminho.
Você acha que o crescente número de adaptações de HQ em Hollywood é um sinal da ausência de bons roteiros?
Não sei se há uma ausência de bons roteiros porque tendo a criar meus próprios projetos e roteiros. Mas acho que as adaptações de quadrinhos são uma aposta certa para gerar outros filmes em série bem-sucedidos em Hollywood. Fazer filmes é uma aventura arriscada, uma vez que nunca se sabe se o público irá querer acompanhá-lo. Essa é a razão pela qual mantenho meus filmes com um orçamento administrável, no qual sei que o estúdio terá o dinheiro que investiu de volta. Sin City é repleto de efeitos especiais e grandes atores e custou US$ 45 milhões. Conseguimos pagá-lo com a bilhe-teria de dez dias de exibição.