Dois dias, dez horas de conversa e a sensação de que nossa realidade está se transformando
A primeira rodada contou com a presença de Tereza Watanabe (nutricionista e diretora do Núcleo de Alimentação do Sesi-SP), Vitor Caruso (representando o professor de ioga Hermógenes), Luiz Geraldo Moura (presidente do Núcleo de Ensino e Pesquisa Aplicada), Cláudio Valladares Pádua (fundador e diretor científico do Instituto de Pesquisas Ecológicas), Karen Worcman (fundadora e diretora do Museu da Pessoa) e Ricardo Salgado (representando Lélia Salgado, fundadora e presidente do Instituto Terra).
O que se viu foi Luiz Geraldo Moura comandando a maior parte do primeiro debate. Ele explicou seus projetos, sua filosofia de vida, e até instigou Tereza Watanabe e o mediador Marcelo Dantas a iniciarem um projeto com uma simples pergunta: “Qual é o seu sonho?”.
Depois de muita conversa, o consenso entre os participantes foi o de que vivemos hoje uma era em que a conexão das pessoas com valores e tradições foi esquecida, e isso reflete na alimentação, no corpo e na biosfera. “A grande questão surge quando existe uma desconexão. Uma de nós com nós mesmos e outra socialmente. Naturalmente as sociedades estiveram acostumadas a viver com a falta e não com o excesso, e você passa isso de geração para geração. O que acontece hoje é que se perdeu a conexão com esse aprendizado e não se reconectou a mais nada. Ficou uma grande periferia de percepção”, sentenciou Karen Worcman.
À noite foi a vez das categorias Saber, Teto e Acolhimento serem discutidas. Laís Bodanzky (cineasta) e Luiz Bolognesi (roteirista), Jair Ribeiro (idealizador da Casa do Saber e da ONG Parceiros da Educação), Denis Mizne (diretor-executivo do Instituto Sou da Paz), Regina Moraes Waib (Associação de Amparo ao Idoso), Maria da Penha (coordenadora da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência), Marilena Ardore (representando Jô Clemente, fundadora da Apae) e Esther Hamburger, representante de dona Ruth Cardoso (hors-concours na categoria Saber). Mais uma vez o resgate às tradições e valores foi assunto, mas o ponto alto do debate foi o apelo feito por Maria da Penha aos participantes do debate: “O Brasil tem leis maravilhosas que não são cumpridas. Então, vocês, como pessoas influentes, podem conscientizar a sociedade da gravidade que é a agressão à mulher”.
As categorias Desprendimento, Liberdade, Diversidade, Sono e Trabalho foram debatidas na manhã da quarta-feira. Apesar da ausência do senador Eduardo Suplicy, que precisou estar presente na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, em Brasília (DF), a mesa de participantes contou com Ronaldo Lemos (representante brasileiro do Creative Commons e um dos fundadores do site Overmundo), o educador Antonio Carlos Gomes da Costa (Fundação Antonio Carlos e Maria José da Costa), o diretor de teatro Guti Fraga (Nós do Morro), Monja Coen (fundadora da Comunidade Zen Budista) e Oded Grajew (idealizador do Fórum Social Mundial e ex-presidente da Fundação Abrinq). Foram quase duas horas de conversa repletas de frases de efeito como a de Ronaldo Lemos: “Em toda parte do mundo é muito difícil esperar algo de governos. A maioria de nossos políticos estão a serviço de financiadores de campanha. Nenhuma empresa doa dinheiro porque achou lindo o candidato de olhos azuis e se interessou por ele”. E também alguns momentos de emoção, quando, já com a voz embargada, Guti Fraga, ao explicar sua história, não segurou as lágrimas e soltou um “olha o mico que eu estou pagando”, para depois ser consolado pelos aplausos do auditório.
Foram quase dez horas de conversa, divididas em dois dias, em que a reunião de personalidades tão distintas transformou o pensamento de alguns que achavam que estavam lutando sozinhos para melhorar o planeta onde vivemos. Como disse Antônio Valladares, “estão falando muito em salvar o planeta. Temos é que cuidar da humanidade”.