Seria necessário ter uma escola para cada um de nós. E o contrário, acontece: há muitos de nós para poucas escolas
Para aprender a conviver bem, primeiro é preciso conviver, obviamente. Não há escola que ensine isso, e nem adiantaria ter porque somos iguais somente em uma coisa: nas diferenças.
Em um mundo ideal, seria necessário ter uma escola para cada um de nós. E o contrário acontece nos dias atuais: há muitos de nós para poucas escolas. Paulo Freire dizia que somos seres ensinantes porque aprendemos ensinando — e é verdade. Quer aprender algo para valer? Vá ensinar para os outros sobre o assunto. Só quem aprende mesmo é capaz de ensinar, somente um bom aluno pode ser um bom professor. É a lógica, não é mesmo?
Porém, na prática nem sempre é assim. Eu mesmo fui um péssimo aluno. Aliás, já fui péssimo em quase tudo, e em alguns itens continuo sendo. Só aprendi de verdade sozinho e porque tive que ser professor, ser autodidata. Eu e meus alunos aprendemos a conviver convivendo, justamente por sermos seres coexistentes.
Depois de mais de 30 anos preso, tive que aprender sobre convivência de novo. Voltar a reencontrar a alegria de viver para poder conviver bem. E olha, já faz 15 anos! Mesmo com 66 anos, afirmo com todas as letras: sou um lerdo aprendiz. Mesmo dando passos em direção aos outros e tentando dar tudo de mim aos mais próximos, falhei. É uma missão difícil, mas já me adaptei a essa dificuldade e convivo com ela tentando manobrá-la. Sempre me educando também - não só para mim, mas também para os outros.
Por fim, não há dúvidas de que as pessoas que vivem conosco são as que mais necessitam de nós. Não consigo crer que haja algo mais importante que aprender a tratar as pessoas com as quais convivemos com respeito, carinho e toda doçura que somos capazes.
A convivência é uma arte.
*Luiz Alberto Mendes é escritor e foi homenageado pelo Trip Transformadores em 2016. Conheça sua história aqui.