Danilo, da seleção e do Fla: inteligência em campo

por Redação

O jogador fala sobre a paixão pelo campo, o medo da aposentadoria, os estragos que o esporte de alto rendimento faz no corpo, saúde mental, racismo e futebol como ferramenta de transformação

Jogador titular do Flamengo, Danilo Luiz também sente o peso de vestir a camisa da Seleção Brasileira de Futebol ao ser convocado para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. Aos 33 anos – 16 deles vividos como jogador profissional –, o atleta entende o futebol não apenas como o lugar de seus feitos, mas como uma ferramenta de transformação: sua, da sua família, e de quem ele puder alcançar. Mas o craque não limita sua atuação às quatro linhas. "Nós somos múltiplos, temos várias habilidades, olhares diferentes dependendo do momento de vida. Posso ser um atleta bem-sucedido, ganhar dinheiro, ter uma vida bacana e, ainda assim, ser a pessoa que eu quiser, falar do que eu quiser", afirma.

Danilo Luiz abre o coração no Trip FM sobre o que ainda o impulsiona na carreira e a proximidade de sua aposentadoria. "O fim não está muito longe e fico me fazendo essas perguntas: o que vai acontecer com esse espaço? Como vou substituir isso?", refletiu. "Hoje, me custa muito mais a preparação física, os treinos, as viagens, os sacrifícios. Mas o jogo vale tudo."

No papo com Paulo Lima, o craque fala sobre racismo, saúde mental e responsabilidade e também conta de seus projetos fora de campo, como a Voz Futura, plataforma de comunicação voltada para a educação e o entretenimento.

O programa fica disponível no Spotify e no site da Trip.

Trip. O que ainda te move depois de tantos anos de carreira?

Danilo Luiz. Eu já levo muitos anos de profissão e muitas coisas hoje em dia me custam mais: a preparação, os treinos, as viagens, os sacrifícios. Mas o jogo… Eu sou viciado pelo jogo. A sensação, a incerteza, ser levado ao limite, a concentração necessária, o jogo mental, as nuances… É difícil descrever, mas é isso que me move.

É uma rotina que nem sempre é prazerosa, né? A gente tem que ser honesto quando fala para o público e para as próximas gerações que se inspiram em nós: é duro. Em alguns momentos não é nada bacana, não é com prazer, é de cara feia, por obrigação. Mas o resultado final, o jogo… Sabe aquela coisa ali do palco? Aquilo, sim, vale a pena.

Você já pensa no fim da sua carreira? Eu acredito que o fim da minha carreira não está muito longe e fico me perguntando: o que vai acontecer com esse espaço? Vou tentando já fazer várias outras atividades, me imaginar em outros cenários… Faço tantas outras coisas justamente por isso.

E como você lida com essa transição? A gente tem a mania de se definir por uma linha só, por um nicho. Eu acredito que isso é limitar o potencial de cada ser humano. Nós somos múltiplos, temos várias habilidades, olhares diferentes que dependem do momento de vida, da idade, da experiência. Eu posso ser um atleta bem-sucedido, ganhar dinheiro, ter uma vida bacana e, ainda assim, ser a pessoa que eu quiser, falar do que eu quiser.

Você acha que existe uma imagem distorcida do atleta? A gente muitas vezes se faz ver da maneira equivocada, só nos momentos de sucesso, de êxtase, de felicidade. E ao se mostrar só assim, você traz uma certa carga de super-herói, de superstar… Mas vai chegar o momento difícil, em que você vai estar em baixa, e aí as pessoas se perguntam: como assim ele está precisando de suporte? Então acho que aqui se trata muito mais de humanizar a forma como a gente se faz ver.

O cuidado com a saúde mental tem a ver com isso? Se você não tiver humanamente bem, é impossível que você performe. Você pode até performar por um tempo, mas é impossível se manter no topo tanto tempo. Humanamente bem não quer dizer estar sempre feliz ou satisfeito, mas sim ser capaz de lidar com as questões que vão surgindo, com os desafios.

Créditos

Imagem principal: Lucas Figueiredo

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