Wikileaks das armas

por Ronaldo Lemos
Trip #222

Lemos: ”Não é mais preciso ir a uma loja comprar uma pistola. Basta baixar pela internet”

Hoje é possível imprimir facilmente armamentos de fogo com impressoras 3D. Não é mais preciso ir a uma loja comprar uma pistola. Basta fazer o download pela internet

O hype sobre as impressoras 3D está em toda parte. Para quem ainda não viu uma delas funcionando, trata-se da tecnologia que permite “imprimir” objetos em casa. A pessoa baixa um arquivo da internet com o design e a impressora cria o objeto a partir de uma resina plástica. É como baixar música, só que agora funcionando com coisas físicas. Uma impressora básica fabricada nos Estados Unidos custa hoje cerca de US$ 2 mil (as feitas na China podem custar menos de US$ 800).

A revista The Economist já disse que esse tipo de impressora vai levar a uma nova revolução industrial. Só que a tecnologia está gerando polêmica. Especialmente porque hoje é possível imprimir facilmente armas de fogo com elas. Não é preciso mais ir a uma loja comprar uma arma. Basta fazer o download pela internet.

Com medo dessa possibilidade, os principais sites de compartilhamento de design de objetos começaram a banir os arquivos contendo armas e seus componentes. Sites como o Thingverse, onde é compartilhado um grande número de arquivos de objetos, decidiram tirar do ar tudo o que tivesse a ver com armas de fogo (havia até componentes de rifle AR-15 para download).

Revoltado com essa decisão, um grupo chamado Defense Distributed (defesa distribuída) criou seu próprio site de compartilhamento de arquivos de armas. O projeto foi batizado de WikiWeapon, algo como WikiArma. O primeiro protótipo de pistola “popular”, pronta para impressão, foi ao ar em maio de 2013 com o nome de Liberator.

De brinquedo

Com isso, toda a discussão sobre desarmamento e controle de armas, tanto no Brasil quanto em outros países, muda completamente de figura. O controle de armas vai passar por dilemas parecidos com aqueles enfrentados por outras indústrias, como a música ou o cinema. Para controlar armas, vai ser necessário controlar a informação, algo praticamente impossível com a internet.

Além disso, a arma é toda feita de plástico (com exceção de uma pequena agulha de metal na ponta do cão). Com isso, ela não aciona a maioria dos detectores de metal. Sem contar com o fato de que se parece com um brinquedo, podendo ser feita em diferentes cores, como azul, amarelo, branco, vermelho etc.

No site do grupo Defense Distributed constam os seguintes dizeres: “O objetivo desta organização é defender a liberdade civil do acesso popular a armas, de acordo com a Constituição dos Estados Unidos, facilitando o acesso global e a produção colaborativa do conhecimento relativo à impressão de armas, além da publicação e distribuição, sem qualquer custo, dessas informações”.

Está aí uma questão que desafia qualquer controle legal ou regulatório. E que tem o potencial de mudar o mundo. Para pior.

*Ronaldo Lemos, 36, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br

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