Nessa edição tentamos com despretensão e ausência de barreiras entender um pouco as drogas
Trip. O nome da revista e da editora foi concebido numa viagem. Na estrada, com o pensamento se deslocando mais rápido que o corpo, o nome pareceu perfeito. Contou o fato de ser uma palavra curta, entendida em quase todos os cantos do mundo. Mas pesou bem mais a ideia de que um monossílabo de som curto e desenho simpático pudesse carregar embarcados tantos significados e leituras. E, sim, uma delas, a que leva para o campo das viagens de alguma maneira induzidas, era mais um dos que nos interessavam estudar e abranger.
Assim, sempre foi parte importante de nossa vocação observar as diferentes maneiras pelas e com as quais a humanidade viaja, seja com a aparentemente simples força do próprio pensamento, do cérebro, do corpo, seja com a tecnologia que ampliou e acelerou nossas viagens, seja com o poder dos sentimentos, seja com o deslocamento físico para perto de outras culturas e paisagens, seja claro, com as ferramentas químicas, industriais ou naturais, com que as civilizações e até os humanos que vieram antes delas davam um jeito de buscar o diverso.
Na origem da palavra diversão, algo que nos parece tão caro e fundamental, é possível entender um pouco mais e melhor. Ali está o desvio, a tal busca do diverso, levar a mente para outro campo diferente do nosso constante estado de espírito, conduzir a mente para um ambiente distinto do suposto normal.
Numa rápida pesquisa na web, é possível descobrir filmes que exibem macacos e outras espécies buscando frutos em processo de fermentação para consumi-los, com o único propósito de desfrutar de um estado de embriaguez momentânea. Raízes e plantas com poderes de alterar o estado são consumidas por humanos e “outros bichos” desde sempre e, indo um pouco mais adiante, qualquer pessoa que já tenha observado ou estudado minimamente os sistemas carcerários sabe que a completa eliminação dos narcóticos é algo quase impossível e que, em certa medida, eles são quase fundamentais para manter a vida de quem é privado da liberdade.
Assim, por uma série grande de razões, o assunto drogas vem sendo tratado com seriedade e profundidade e ao mesmo tempo com a maior leveza e abrangência possíveis por aqui, já há quase duas décadas. Na edição que você começa a ler não foi diferente. Das crianças que mal aprenderam a andar e já procuram rodopiar em torno do próprio eixo para se divertirem com a sensação de tontura até experiências químicas “pós-modernas” à base de hormônios administrados no escuro da ignorância, passando pelos horrores e pela destruição causados pelo consumo abusivo e equivocado de certas substâncias, nosso objetivo, como sempre, foi olhar para um tema sem preconceito. Na verdade, lutando para que o preconcebido encontre cada vez menos alimento para se reproduzir. E, sabemos, seu caldo de cultura preferido é a própria ignorância. A mesma ignorância que nos revela despreparados para lidar com um assunto como esse, desesperados diante de seus nefastos extremos e fechados para o que possa nos ensinar.
Este foi o nosso propósito, mais uma vez. Tentar com despretensão, largo alcance e ausência de barreiras entender um pouco melhor as drogas, uma das grandes questões que não conseguimos equacionar, enquanto tentamos viver em grandes grupos e administrar, ao mesmo tempo, a dureza da existência.
PAULO LIMA, editor