O australiano Michael Linke quer implementar uma frota de bicicletas elétricas para transporte de passageiros nas ruas do Rio. ”É seguro, não poluente, divertido e cria novos empregos”, diz
Michael Linke acabou dedicando-se ao ciclismo urbano por acidente. Mesmo: voltando de bicicleta da faculdade em Camberra, na Austrália, foi atropelado por um caminhão. Ele sofreu apenas algumas escoriações, mas a bike virou sucata. Michael brigou, não conseguiu ser ressarcido, e sua revolta foi direcionada para estudos e projetos de mobilidade. A Trip deu uma volta no mais recente, uma bicitáxi elétrica que ele quer implementar no Rio de Janeiro.
A bicitáxi é resultado de conhecimentos acumulados por Michael em vários outros pontos do planeta. Em Londres, ele trabalhou em uma empresa que alugava triciclos para transporte de passageiros. Depois, em Hamburgo, teve contato com uma ONG que coletava e exportava bicicletas de segunda mão para serem usadas por voluntários na África e decidiu se mudar para a Namíbia — que na época, em 2005, tinha apenas três lojas de bicicletas.
Michael fundou a Bicycling Empowerment Network no país africano, uma rede de pessoas ligadas à atividades sociais com foco na comercialização e manutenção de bikes. “Não adianta distribuir bicicletas para as pessoas ajudarem as outras se você não oferece a elas uma maneira de se manterem financeiramente”, ele diz. Em dez anos o projeto teve um resultado robusto: 40 mil bicicletas distribuídas, 34 lojas e 112 empregos direto criados.
Foi na Namíbia também que Michael se casou com uma carioca, envolvida em projetos sociais na região, e teve dois filhos. Desembarcando no Brasil em 2012, se deparou com o trânsito caótico do Rio de Janeiro e não demorou para ter a nova ideia. “Uma cidade como o Rio de Janeiro precisa de um modelo de bicitáxi", afirma. "É seguro, não poluente, divertido e, acima de tudo, cria novos empregos”.
A Trip embarcou no bicitáxi do Michael no Largo do Machado, onde ele mora e trabalha, e seguiu até o Aterro do Flamengo. Os olhares curiosos vinham de todas as partes. Brisa gostosa no rosto, imagens de cartão postal se desdobrando à nossa frente. “Muito bonito e confortável. Certamente, muita gente adoraria ter a opção de se locomover aqui no Centro nesta maravilha. Paguei de bacana”, comentou a psicóloga Vânia Torres para a galera do quiosque. Num outro canto da praia, o frentista Sergio de Lima Elias também curtiu o rolê — e garantiu que na orla ou nas redondezas da revitalizada Praça Mauá um bicitáxi teria fila para embarque.
O protótipo da bike custou R$ 40 mil e foi todo desenvolvido em Xangai, na China. A frente é como a de uma bicicleta comum, mas ela é acoplada de cabine. Uma placa de energia solar garante o reabastecimento do motor elétrico para ajudar a mover o veículo, que também funciona só com pedaladas. O bicitáxi chega a 30 km/h e transporta até dois passageiros.
O objetivo é oferecer uma alternativa de locomoção para distâncias curtas, de até 10 km, e uma oportunidade de emprego para jovens carentes. “Não acho que seja só uma questão de mudar os meios de transporte, mas sim de criar oportunidades para as pessoas”, diz Michael.
O australiano já apresentou o projeto na Prefeitura e foi convidado a elaborar um modelo de implantação. Estuda agora como produzir o esqueleto da bike no Brasil e só importar o estritamente necessário, a fim de baratear o custo para pelo menos R$ 20 mil. Ele imagina, no curto prazo, uma frota de 50 bicitáxis, com capacidade de gerar pelo menos R$ 200 por dia para os ciclo-taxistas. Já pensou até em um aplicativo para o serviço. “Usando o aplicativo, seria possível visualizar os projetos que os ciclo-taxistas apoiam nas comunidades deles e, eventualmente, fazer uma contribuição”, conta.