Um bonde chamado Machado

por Redação

Pegue carona com esta biografia e embarque na vida do maior escritor brasileiro

Por Fabrício Carpinejar*

Machado de Assis, Um Gênio Brasileiro, Daniel Piza (Imprensa Oficial de SP/Edusp)
Daniel Piza não quis bancar o Machado de Assis para contar sua história. Não usou nenhum de seus romances ou contos como forma. Não quis ser mais machadiano do que Machado. Esse é um dos grandes méritos desta biografia, ao lado da visão que derruba a tese de que Machado mudou de repente ao escrever Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Ele não mudou, Piza demonstra, cresceu de modo coerente e progressivo. É impressionante como até então a vida do "Bruxo de Cosme Velho" era desconhecida. Piza cavou jornais, detalhes, miudezas, documentos para reconstituir os 69 anos da vida do maior escritor brasileiro. Parece que mexeu na casa de Machado enquanto ele vivia. Olha o escritor intimamente de longe, com parcimônia e paciência. Reconstitui o humor irônico e a evolução estilística do autor na intensa produção de crônicas em jornais e em suas peças de teatro, narra com cuidado atento (nunca bajulação) sua sobrevivência social, em um ambiente hostil, em que enfrentou os preconceitos de sua origem pobre e negra, de seus ataques epiléticos, de sua linguagem concisa, alheia aos modismos do século 19. É possível rir do susto de Machado de Assis em seu primeiro passeio de carro (na situação, "um monstrengo") ou se emocionar com a pungência em sua despedida da esposa Carolina: "Não acharia ninguém que melhor me ajudasse a morrer". Um livro imprescindível.

* Fabrício Carpinejar, poeta e jornalista, é autor de Como no Céu/Livro de Visitas (ed. Bertrand Brasil)

fechar