Mudanças
Como é cara ao homem a idéia de mudança! Caso algo não esteja dando certo, é só mudar. Transformar em algo diverso talvez dê certo. Vemos isso no trabalho, no lazer, na escola, no lar... Deu problema, muda logo e pronto; esta resolvido o problema. Não é assim?
Encarar, enfrentar e tentar resolver, não são atitudes que nos estimulem. Resolver problemas, bater de frente é só para aqueles poucos realmente corajosos ou inconseqüentes que não mensuram. A estes elegemos nossos líderes. E deles exigimos, além de coragem; honestidade, respeito, honra e quase perfeição. Alguns desses, posteriormente, como Francisco de Assis, os elevamos à categorias de santos. Outros depois de os envelhecemos em nossas masmorras, glorificamos e os tornamos presidentes, como no caso de Nelson Mandela. Ou então os matamos, depois de intitulá-los Mahatma e pai da pátria, como fizemos com Gandhi. Vivemos de enganos e permitimos que alguns trucidem milhões, como no caso de Hitler e seus asseclas nazistas.
Vemos a horrível largata virar borboleta e imaginamos transformação idêntica. Criamos asas e saímos flanando no ar... Esquecidos do peso de nossas culpas e de nossas responsabilidades em tudo que acontece. A borboleta ainda é a largata, apenas desenvolveu o que era, cresceu. Ela não se transforma; ela desabrocha como uma flor, naturalmente. A borboleta é a flor da largata. E é assim que tudo acontece.
Portanto, nada muda, tudo tende a se desenvolver. Mudar é ser outro. E isso é mais perversa das mentiras. São as religiões estupidificantes, regimes sociais totalitários e visões de mundo parciais que ainda ousam propor mudar o outro. Transformá-lo no que ele não é. Porque só assim é possível controlá-lo.
Vivi essa experiência de totalitarismo enquanto preso Não é possível ser outro. Não é possível delegar ou postergar decisões e desenvolvimentos que são apenas nossos. Isso não vai virar naquilo. Isso vai se desenvolver para aquilo ou para aquele outro, conservando suas características próprias. Não deixará de ser isso; será isso, aquilo e aquele outro, desenvolvido e acrescido. Somos um processo, uma acumulância sedimentar. Tudo que nos acontece; que fazemos acontecer; ou até aquilo que deixa de nos acontecer, somos nós.
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Luiz Mendes
01/11/2010.