O fusca comemora cinco décadas no Brasil com uma legião de fãs incondicionais
Ele nasceu na Alemanha sob a tutela do regime nazista, mas atravessou o Atlântico e carimbou no passaporte a nacionalidade brasileira pra se tornar um dos cidadãos mais emblemáticos do nosso país. Há exatos 50 anos, a Volkswagen nacionalizava a produção do Fusca, que rapidamente venceu o preconceito mostrando que tamanho não é documento.
Nos anos de chumbo da ditadura, atuou como um raro símbolo de democracia. Ricos, pobres, era impossível identificar quem era quem no trânsito congestionado pelo modelo que cabia no bolso de todas as classes sociais. Na década de 70, impulsionou o chamado Milagre Econômico, liderando o ranking de vendas com mais de 50% de todo o mercado nacional.
Em 1986, o modelo saiu de cena com mais de 3 milhões de unidades comercializadas, o que já seria um recorde para um automóvel que pouco – ou nada – mudou durante 27 anos de existência. Mas o besouro queria mais: apadrinhado pelo então presidente Itamar Franco, voltou aos “palcos” em 1993, presenteando seu fiel público com um bis de mais três anos de duração. Nessa plateia apaixonada está o baterista dos Titãs, Charles Gavin, 48 anos, proprietário de um Fusca 1968 “totalmente original”, como faz questão de ressaltar. “O carinho pela máquina”, revela, vem da infância. “Meu pai teve vários modelos, dos quais guardo muitas recordações”, diz.
O próprio Gavin aprendeu a arte de guiar atrás do volante de um Fusca, que foi seu primeiro carro e também o segundo, o terceiro... “Até que um dia meu pai me deu um Passat, mais moderno. Só que sustentar o danado estava além das minhas posses e acabei voltando para o bom e velho Fusca.” Nessa época, início dos anos 80, ele ainda tocava com o Ira! e fazia turnê por todo o interior paulista. “É desafiar as leis da física, mas viajávamos no Fusca os quatro integrantes da banda mais os instrumentos, inclusive a bateria”, narra.
Além do design inteligente e da mecânica robusta, Gavin destaca o barato de ver o mundo passar mais devagar quando encara o agitado trânsito carioca a bordo do besouro. “Sinto que fico zen, mais tranquilo. Não adianta querer correr. Ou você dirige zen, ou não dirige.”