Fico dividido entre o desejo de torcer pelo Brasil. Meu desejo é ir às ruas protestar

Fico dividido entre o desejo de torcer pelo Brasil e o receio de esta minha excitação ser um aval para a decisão errada de fazer a Copa no Brasil. Meu desejo é ir às ruas protestar

Caro Paulo,

Vou reproduzir aqui um ditado popular com palavras muito chulas, mas que encerra tanta sabedoria de forma tão simples que espero ser perdoado por quem se sentir ofendido: “Cabeça de pau duro não pensa”. Acho que essa frase sintetiza o melhor e o pior da vida. Porque o tesão talvez seja a manifestação mais expressiva da energia da vida e porque essa energia sem o pensamento consciente que lhe dê direção e sentido é a negação da diferença que nos define como humanos. Fiz muita besteira no calor da excitação movida pelo desejo; de sexo a compra de objetos, passando por contratação de pessoas e orçamento de projetos para clientes. Mas também não acredito que ser movido apenas pela razão e pelo pensamento consciente nos leve a uma vida boa.

Qual é a ideia que está por trás dessa oposição entre a excitação do desejo e a serenidade da razão? Uma vida morna? Obrigado, não para mim. Como alguém já disse: me dê quente ou frio, morno eu vomito! Eu acredito tanto no design do ser humano que fico sempre procurando a genialidade daquilo que eu chamo de defeito na condição humana. No caso de “tesão versus razão” ainda não achei.

Enquanto isso, neste momento, fico dividido entre o desejo de torcer pelo Brasil e o receio de esta minha excitação ser aval da decisão errada de fazer a Copa no Brasil. A Copa do Mundo e a vitória do Brasil têm um significado muito grande na minha vida porque foi na alegria da celebração da de 70 que comecei a namorar a Lili, minha companheira com quem estou construindo uma longa e venturosa história. Consigo lembrar das cores, da movimentação e do som da excitação subindo e descendo a rua Augusta quando peguei na mão da Lili e demos o primeiro beijo. Para quem não sabe, naquela época, primeiro pegava na mão, depois beijava na boca. (Sim, antigamente tudo era mais lento e linear.)

JOGO DA VIDA

De lá para cá, todas as nossas Copas têm um sabor particular, temperado com memórias deliciosas e emoções muito fortes. Desta vez, minha razão está tirando meu tesão. Meu desejo é ir para a rua, mas não para festejar e beijar e, sim, para discordar do jeito Lula de lidar com o Brasil. Preciso reagir ao deboche com que o pai do Lulinha trata o povo brasileiro, acreditando que o futebol vá driblar a realidade do país e a consciência do povo. Talvez o feitiço vire contra o feiticeiro, juntando o justo com o agradável. Como lembra meu filho Pedro, a vitória do Brasil na Copa das Confederações no ano passado uniu o povo para sair às ruas e defender seus interesses. Tomara.

Aí está uma boa pista para descobrir a genialidade do design da oscilação: a oscilação existe para nos obrigar a fazer a gestão consciente da tensão – não tesão! – entre a razão e o tesão! Como se fosse um jogo, o jogo da vida.

E você, meu amigo, como está vivendo essa Copa?

Meu abraço,

Ricardo

*Ricardo Guimarães, 65, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é @ricardo_thymus

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