por Luiz Alberto Mendes

DEVEDORES  OU  CREDORES  DO  TEMPO?

Podemos ser credores do tempo; pagarmos agora para viver depois. Abrir mão do que podemos no presente em prol de algo esperado para o futuro, que nos satisfaria muito mais. Primeiro as obrigações, depois os prazeres. O custo sempre precedendo o benefício. Ou então podemos ser devedores do tempo; viver agora para pagar depois. Valores e benefícios usufruídos que custa algo a ser pago posteriormente. Temos então, como conseqüência, o prêmio da espera na ponta credora e o preço da impaciência na ponta devedora. Valores presentes e valores futuros medem importância. Qual escolher?

                                                          **

Sim, é preciso responder a essa questão. Viver agora ou viver depois? Viver uma juventude cheia de aventuras e dissipações, teria como conseqüência uma velhice apertada, no mínimo difícil e complicada. A juventude, então, deixa de ser gratuita. Ela antecipa a custa do futuro. Ou segurar a onda, economizar o corpo e as finanças a fim de se ter uma velhice sossegada. No caso paga-se no presente para receber no futuro. Para mim, hoje em dia nos meus 57 anos de idade, penso que é melhor sacrificar para receber depois. Mas, puxa, um pouco tarde, você não acha? Já estou na fase de receber a antecipação juvenil. Dissipei na primeira fase da juventude. Usei todo tipo de drogas e participei de todas as gandaias de minha época. Claro, sofro as conseqüências físicas e sou um duro, não tenho quase nada. Mas logo fui preso e, naquele tempo, a disciplina e a vigilância na prisão eram radicais. Raramente conseguíamos um baseado para fumar. Então, daí para frente só economizei para gastar no futuro. Principalmente depois que conheci os livros. Eles me salvaram. Aprendi que se queria ainda conseguir alguma coisa daquela minha vida já tão comprometida (já cheguei a estar condenado a 132 anos de prisão), teria que sacrificar. Tratei-me com rigidez draconiana para assimilar sozinho aprendizados extremamente complexos. Por décadas, acordei 5 horas da manhã, tomava meio litro de café frio (não havia como esquentar) do dia anterior e mergulhava nos livros. Quebrava a cabeça, exasperava, desesperava diante conceitos que não conseguia penetrar. Ficava me achando o maior burro do mundo, mas depois, com persistência, eles iam cedendo e eu assimilando algumas coisas. Por conta disso, vivo aqui fora do que aprendi na prisão. Posso escrever sobre um monte de temas e discutir conceitos com certa facilidade. Virei escritor. Mas puxa, estou envelhecido, não tenho mais a mesma versatilidade, a mesma força ou potência e não posso mais viver um monte de coisas que só hoje estou mais equilibrado para viver. Vivi tão pouco e já não posso viver muito mais.

                                                        **

Dessa discussão resta que um lado atribui valor exagerado ao que esta próximo de nós no tempo em detrimento ao que esta afastado. O outro lado atribui valor excessivo ao amanhã, que a gente nem sabe se vai acontecer para nós, em prejuízo aos acontecimentos correntes. Subestimamos o futuro por um lado e subestimamos o presente pelo outro. A moderação talvez seja a resposta mais coerente. Mas o risco de não dar certo tudo o que se cria ou faz é uma possibilidade concreta. Afinal, o método existencial de aprender é ir do erro ao acerto, ninguém nasceu sabendo, dizem.

Acho que o ideal seja conseguir uma tensão. Ir ao limite da coerência em ambos os casos. Algumas situações exigem de nós ação no presente senão perdemos oportunidades. Outras pedem que aguardemos e tenhamos paciência como único método de se alcançar resultados.
Claro que quem sabe faz a hora e não espera acontecer, como queria Geraldo Vandré. Mas para saber é preciso aprender e para aprender.

                                                       **

Acabo de escrever isso, vou dar uma lida, mas nem vou revisar. Quero lembrar que dia 09/11/2009 teremos a segunda leitura de minha peça “A Passagem” feita pelo ator João Signorelli no Hotel Linson, no começo da rua Augusta, às 20:00 horas. E no dia 11/11/2009, estarei lançando uma nova edição em poket do meu primeiro livro “Memórias de um Sobrevivente”, na livraria da Companhia das Letras no Conjunto Nacional, Av. Paulista, acho que lá pras 20:00 horas também. Quem quiser conhecer pessoalmente, bater um papo, tomar um vinhozinho gostoso, é só passar lá.

Luiz Mendes

23/10/2009.

fechar