A astróloga mais pop do mundo antecipa o que nos aguarda nos próximos anos
A americana Susan Miller é a astróloga mais pop do mundo. suas previsões arrastam todo mês 18 milhões de leitores para seu site – muitos brasileiros. Ela diz que a astrologia ajuda a encarar o futuro de forma mais ativa e antecipa o que nos aguarda nos próximos anos. Pode ficar tranquilo: o mundo não acaba em 2012.
Susan estava em um almoço de negócios em Los Angeles. Na mesa, uma moça aflita. Clementine havia acabado de se casar e tinha perdido seu anel de casamento. Susan sacou o inseparável MacBook Air da bolsa, abriu o software que usa para fazer suas previsões e perguntou que horas eram. “Eu vejo muita água em volta desse anel, mais do que já vi em toda a minha vida. E um pouco de areia e madeira também.” A amiga de Clementine debochou: “Você surfou em Santa Monica uma semana atrás. Deve ter caído perto do calçadão. Por que não contrata um mergulhador?”. Todos riram, só que Clementine realmente contratou o mergulhador. E ele achou o anel. Ou melhor, Susan achou. Para ela, não foi nada de mais: se a astrologia pode saber o que vai acontecer com um grão de poeira solto no espaço – no caso, nós, seres humanos –, pode muito bem localizar um objeto de metal em pleno oceano Pacífico.
No lugar de frases genéricas, suas previsões têm mira e data certas
Você pode acreditar na história ou não, mas fato é que todo começo de mês Susan encontra o anel perdido de outros 18 milhões de pessoas. Esse é o número de leitores que ela recebe mensalmente em seu site Astrology Zone, sendo 90% deles no primeiro dia de cada mês, quando são publicadas as previsões para todos os 12 signos do zodíaco – para muita gente, um momento mais aguardado que o próprio salário. Susan também escreveu seis livros (todos best-sellers), apresenta um programa de TV semanal On demand, colabora para a Elle Japão e Coreia e escreve horóscopos em revistas da Austrália, de Cingapura e da Turquia. Sua empresa de serviços digitais, a Susan Miller Omni Media, ainda produz conteúdo especial para iPhone, BlackBerry e em breve para o Nintendo Wii. No Brasil, que ela promete visitar em março do ano que vem para conhecer seus devotos e numerosos seguidores, a astróloga é lida no jornal diário MTV na rua e terá uma coluna numa revista feminina. Sua fama aqui é tão grande que uma marca criou uma estampa de camiseta com os dizeres: “Susan Miller was (totally) right”.
Mas o que Susan Miller tem que os outros astrólogos não têm? Para começar, ela foi pioneira em levar a astrologia para a internet, lançando seu site antes mesmo de o Google existir. É íntima das redes sociais, com quase 17 mil seguidores no Twitter – a maioria deles brasileira. Entre seus adeptos, estão celebridades como Kirsten Dunst, Orlando Bloom, Mary-Kate Olsen, Jennifer Aniston e Cameron Diaz. Na contramão da economia de palavras da internet e dos horóscopos de um parágrafo dos jornais, suas previsões mensais para cada signo chegam a ter dez páginas. E no lugar de frases inócuas e genéricas elas têm mira certa: “nesse dia, não viaje”, “hoje, fale com o seu chefe sobre aquela promoção”, “o fim de semana será perfeito para arranjar uma nova namorada”.
A astrologia pop praticada por Susan conquistou muita gente que antes torcia o nariz para o que os astros têm a dizer. Até o presente repórter, cético convicto, rendeu-se e fez o primeiro mapa astral de sua vida com ela. A pedido da Trip, que ela recebeu em Nova York para seis horas de conversa divididas em três encontros, a astróloga fez também previsões para o Brasil e para o mundo em primeira mão. Você ficará feliz por saber, por exemplo, que o apocalipse não chegará em 2012, que o ano que vem será o melhor ano do país desde 2000 e que o próximo Facebook poderá ser brasileiro.
Ela já sabia
Susan nasceu, cresceu e vive em Nova York. Seu pai era descendente de sicilianos e sua mãe veio de família alemã. Ela não revela sua idade, mas em uma matéria para o New York Times de 1998 afirmou ter “40 e poucos anos”. É divorciada de Don Miller há mais de 15 anos. Tiveram duas filhas. Diana, a mais velha, tem um site sobre música e é diretora do The Carson Daly Show, famoso programa de auditório norte-americano. Já Chrissie serviu de inspiração para uma personagem do seriado Gossip Girl, é dona da hypada marca de roupas Sophomore e é melhor amiga de Lindsay Lohan e do fotógrafo Terry Richardson. Ambos os partos foram bastante complicados e, no segundo, Susan chegou a ser declarada clinicamente morta.
Esse foi apenas um dos episódios difíceis de sua vida. Susan nasceu com uma rara condição na perna esquerda que a fez passar boa parte da vida em hospitais, entre exercícios severos de fisioterapia e cirurgias. Quebrou quatro vezes o fêmur, passou por 38 transfusões sanguíneas e, recentemente, começa a ter de lidar com uma doença nos olhos que a impossibilita de reconhecer o rosto das pessoas. Mesmo assim, é uma otimista inveterada. Conta seus casos com a empolgação de uma criança e desmonta-se em gargalhadas sem muita dificuldade. Debilitada, passou boa parte da adolescência em casa, praticamente não tinha amigos. Hoje, como se tentasse recuperar o tempo perdido, fala compulsivamente.
Como toda boa nova-iorquina, Susan trabalha muito e dorme pouco. Escreve suas previsões no apartamento de três quartos que tem no Upper East Side (sempre com a TV ligada no canal de notícias) ou no café do outro lado da rua. Quando Trip a visitou, estava às voltas com um imbróglio no Imposto de Renda, por conta de uma contadora que lhe passou a perna. Marcou reserva no restaurante para um de nossos três encontros fingindo ser a própria secretária. Chegou meia hora atrasada, pois não encontrava a chave de casa. “Mas estou tranquila, porque consultei os mapas e sei que ela está dentro de casa”, disse. Mas não é sempre que ela está certa em suas leituras. Por isso dá a dica: “Contem para seu astrólogo se ele acertou em alguma previsão. É o feedback que diz se nós estamos fazendo um bom trabalho. Só fui saber que a Clementine achou o anel dela, por exemplo, seis meses depois. E ainda foi por uma amiga minha. Fiquei enfurecida e fui tirar satisfação”. E o que ela respondeu? “Ué, mas você já sabia!”
Susan, qual o seu signo?
Eu nunca revelo o meu signo. O que importa no meu trabalho são os outros, não eu.
Mas estamos aqui por causa de você...
Meu Deus, você tem razão. OK, meu signo é Peixes. Mas não gosto de falar porque as pessoas não entendem direito. Dizem: “Você não é uma típica pisciana! Não é estúpida, aérea, bêbada...”. Eles acham que signos são como pacotes, mas estão completamente enganados. Um ser humano é um organismo altamente complexo. Para fazer um mapa astral completo, por exemplo, é preciso acompanhar a pessoa por anos, escutar tudo o que ela tem para dizer, as decisões que já tomou na vida. Fora isso, o signo de alguém é apenas a posição do Sol em seu mapa. Há diversos outros fatores que influenciam.
Algum signo é melhor do que outro?
Não, todos têm vantagens e desvantagens, complementam-se. Dizem que na Última Ceia cada apóstolo representa um signo, com Paulo e Pedro representando Gêmeos. Só não pergunte o signo de Judas [risos].
Astrologia e religião têm a ver?
Astrologia não é religião nem uma substituta dela. Também não é adivinhação, não depende da sorte. Astrologia é o estudo de ciclos matemáticos que indicam áreas da vida que sofrerão expansão ou redução. É quase uma engenharia. Eu não sou capaz de prever como uma pessoa irá reagir sob determinada condição. Mas eu posso ver os vários ciclos operando nessa pessoa em um momento específico e indicar os melhores jeitos de agir. Quanto mais você estuda astrologia, mais percebe o enorme poder do indivíduo. Você não pode dizer: “Eu roubei o carro dele porque Saturno estava na minha terceira casa”. Isso é ridículo.
Mas você acredita em Deus?
Claro. Sou muito religiosa, católica. Minha mãe é luterana e meu pai era católico. O combinado era: filhos homens serão católicos; mulheres serão protestantes. Mas ele não cumpriu a promessa.
“Nós não sabemos como ou por que a astrologia funciona, mas funciona”
Quanto do nosso futuro depende de nós e quanto depende dos astros?
Prevemos tendências de futuro, não adivinhamos o destino de ninguém. Somos todos responsáveis por nossas escolhas e ações. A astrologia pode fazer as pessoas serem mais ativas e menos limitadas pela inércia ou pelo medo. Ela nos dá mais conhecimento sobre nossos talentos e personalidade, nos faz aceitar mudanças e desafios de forma mais ativa, amplia a nossa criatividade.
Mas nem todo mundo acredita nela.
Todo astrólogo já foi um cético um dia. Eu era. Ninguém começa acreditando. Mas tenho uma proposta: leia-me por seis meses e veja o que acontece. Ou então leia no fim do mês a previsão que fiz para os dias que passaram e veja se acertei alguma coisa. Se nada for revelador, tudo bem. Eu não escrevo para todo mundo. O problema é que a maioria descarta sem sequer tentar ou ler a respeito. Intuitivamente, não faz sentido algum, eu concordo. Nós não sabemos como ou por que a astrologia funciona, mas funciona. É um desperdício não acreditar nela. Ninguém em todo o universo, em toda a história, tem o mesmo mapa astral. Isso significa que você tem que contribuir para o mundo com seus insights, seus pensamentos, suas aptidões, porque ninguém mais os tem.
Como a astrologia entrou na sua vida?
Minha mãe era interessada em astrologia desde criança, mas nunca encorajou nem a mim nem à minha irmã a estudar o assunto. Mas a astrologia estava presente em vários momentos da nossa vida. Você já levou duas meninas para comprar roupa juntas? É um pesadelo, mas minha mãe sabia que, se levasse a gente na data certa, iríamos adorar tudo. “Meninas, vamos às compras, a Lua está em Leão”, ela dizia. Eu era uma criança muito preocupada com as provas na escola, e quando ela estudava comigo me acalmava: “Não se preocupe, a Lua não está em Virgem, a professora não vai cobrar isso”.
“Não tinha muitos amigos. Nunca tive festa de aniversário”
O que fez ela mudar de ideia e te ensinar o que sabia?
Eu nasci com um defeito terrível na perna esquerda chamado hamartoma [um tumor benigno que deforma o sistema circulatório]. É raríssimo, há apenas 47 casos registrados na história da medicina. Pelo menos uma vez ao ano eu sofria ataques de dor incontroláveis, que duravam de seis a oito semanas. Sentia como se calda de chocolate escorresse dentro da minha perna. Na verdade eram hemorragias, mas nenhum médico conseguia diagnosticar. Um dia então escrevi para uma revista de horóscopos perguntando se eu melhoraria. Eles responderam cheios de termos técnicos e eu disse: “Mãe, tenho que entender isso, agora você vai ter que me ensinar”.
Qual a resposta que eles te deram?
A mesma que a minha mãe. Que aos 14 anos de idade iriam descobrir o que eu tinha. Quando eu tinha 13 anos e 11 meses sofri o maior ataque da minha vida. Fizeram uma operação e descobriram os sangramentos.
Você melhorou então?
Durante a cirurgia principal tiveram que comprimir a parte de baixo da minha perna, o que deixou essa área completamente paralisada. Meu médico, um gênio, sabia que ele poderia restaurar meus movimentos, mas eu teria que abandonar a escola e iniciar um longo tratamento de fisioterapia. Por três anos, de segunda a sexta-feira, eu tinha que passar seis horas por dia no hospital. No fim, tudo deu certo. E, sim, eu posso usar salto alto.
A perna nunca mais incomodou?
Fisioterapia realmente funciona, sou a prova. Ano passado, porém, tive um acidente e quebrei novamente o osso da coxa, pela quarta vez. Ainda não estou 100%, mas sou determinada. E paciente. Estou fazendo muito mais exercícios, quero ser como todo mundo e para isso preciso me exercitar todos os dias.
Como eram as suas aulas de astrologia com a sua mãe?
Ela impôs condições: eu teria que estudar por 12 anos, não poderia contar para meus amigos e ficaria proibida de ler um mapa sem ela. Éramos uma família grande, morávamos todos juntos num prédio de três andares, com a delicatéssen de produtos italianos do meu pai no térreo. De vez em quando eu burlava a última regra e lia o mapa de algum parente.
Você passava muito tempo em casa?
Fiz todo o ensino médio em casa. Minha mãe era minha professora, me ensinava filosofia, teologia e religião. Uma vez por semana eu tinha aulas de matemática e inglês com um professor particular. Acho que eles fizeram um trabalho muito bom, porque entrei para a New York University [renomada universidade norte-americana] e hoje escrevo para revistas do mundo inteiro.
Foi uma infância bem atípica.
Eu passava muito tempo sozinha lendo, costurando, fazendo artesanato. Não tinha muitos amigos. Nunca tive uma festa de aniversário na vida. Até hoje tenho problemas com festas. Para mim, é como ir ao dentista fazer tratamento de canal. Prefiro trabalhar.
Sua relação com sua irmã era boa?
Ela era bem diferente, cheia de amigos. Mas eu não sofria muito com isso, era feliz na minha solidão. Geralmente, o que te faz diferente acaba te frustrando, mas, na verdade, ajuda a enxergar melhor as coisas.
E seu pai, o que achava de ter duas astrólogas em casa?
Minha mãe me contava que ele fazia graça com ela por causa disso antes de eu nascer. Até que algo aconteceu. Ele tinha um irmão na Segunda Guerra Mundial, que toda semana mandava uma carta dando notícias. Certa vez, porém, a carta não chegou. Minha mãe consultou os mapas e disse: “Você vai receber notícias dele na sexta-feira, às 23h”. E ele: “Você já começou errado, pois as correspondências chegam no máximo até as 20h”. Na sexta, meu pai passou o dia fazendo entregas e chegou tarde em casa, justamente perto das 23h. Encontrou meu tio Charlie e perguntou: “Alguma notícia do Pete?”. Ele apontou para debaixo da caixa registradora, e lá estava a carta dizendo que ele estava vivo. Daí em diante, ele não falou mais nada.
Quando você saiu de casa?
Saí com 22. Dois anos depois, casei com meu ex-marido, que conheci em um elevador. Ele é Escorpião, nos separamos quando as crianças tinham 10 e 13 anos. Somos amigos, tenho a chave da casa dele para ajudá-lo quando ele fica trancado do lado de fora. Ele nunca pagou pensão, era falido. E eu tinha de criar nossas filhas, pagar escola em Nova York, que custa os olhos da cara, e ainda ser boa mãe. Depois tive um namorado por 15 anos, mas que faliu duas vezes também. Só me relacionei com homens pobres [risos]. Mas, se eu tivesse casado com um dentista rico, ninguém nunca teria ouvido falar de Susan Miller. A vida teria sido fácil demais.
A vida não pode ser fácil?
Para aprender tem que sofrer, basta ver a biografia de diversos artistas. Minha mãe chamava as adversidades de “modeladores de caráter”. Eu tinha 12 anos e não entendia o que isso queria dizer: “Mamãe, acho que não gosto muito desses modeladores de caráter”. Hoje vejo que ela estava completamente certa. A vida não é feita para ser curtida. Muitos buscam isso e acabam frustrados. Acho que nossa missão aqui é contribuir.
Mas você sempre soube que seria astróloga?
Não mesmo. Astrologia era apenas meu segredo com minha mãe, nunca planejei viver disso. Trabalhei como agente de fotógrafos por 16 anos e amava meu trabalho. Mas, de alguma forma, os dois empregos são bem parecidos. São visuais, falam em signos. E sou boa em decifrá-los, acho. Quando faço um mapa, é como fazer a polaroide de um signo.
Quando o Astrology Zone surgiu?
A agência em que eu trabalhava estava fotografando a campanha de um cereal matinal e, como forma de agradecimento ao cliente, fiz o seu mapa astral. Ele adorou e sugeriu que eu conhecesse sua esposa, que trabalhava na Warner Books. Viramos grandes amigas e lancei um livro pela editora. Seis anos depois, ela propôs que eu tivesse uma coluna no site deles, que estava sendo criado. Tive que aceitar. Quando eu tinha 10 anos de idade, minha mãe havia previsto que eu seria uma grande escritora, mas de uma mídia que ainda não havia sido inventada. Era a internet! Isso foi em 1995, os sites eram todos em preto e branco e diziam “Bem-vindo”.
Você sabia que ele faria sucesso?
Na primeira reunião que tivemos, antes de o site entrar no ar, eles falaram que queriam uma pequena coluna. Eu fiquei desapontada, porque tinha imaginado um portal inteiro. Eles resistiram, mas eu disse: “Nós temos que pensar grande!”. Eles adoraram meu entusiasmo e perguntaram se eu faria algo diário, pequeno e para mulheres. Eu disse que não, que faria algo mensal, grande e para todos os sexos. Hoje escrevo quase 35 mil palavras por mês. Sabia que não faria diferença nenhuma no mundo se escrevesse apenas mil.
Em tempos de Twitter, isso é como ir na contramão.
Eu não sigo essa dieta de palavras que se vê hoje em dia. Previsões não funcionam assim. Ninguém nasce de novo a cada mês, você traz coisas dos dias que passaram: desapontamentos, sonhos, projetos... E eu tenho que levar isso em consideração, tenho que explicar os termos astrológicos que uso e por que fiz essa ou aquela previsão. Preciso provar para os meus leitores que faz sentido ler o que eles estão lendo.
“Eu vejo o Facebook morrendo e acho que o substituto pode ser brasileiro”
Tem gente que realmente pauta a vida nas suas previsões.
Eu sei, é insano! Tenho que lidar com patrocinadores, editores, pessoal da informática... Às vezes atraso e as pessoas ficam furiosas no Twitter: “Susan Miller, por acaso você se esqueceu que hoje é o primeiro dia do mês?”. Eles acham que eu escrevo as previsões em uma hora, enquanto assisto à TV, sentada no sofá de pijama, mas não é assim.
Quanto custa manter o Astrology Zone funcionando?
Custa US$ 400 mil por ano. Tenho 23 pessoas trabalhando, entre vendedores, editores, assistência, assessoria de imprensa, designer e redatores para celular. O site exige muito de mim, é como se a cada mês eu parisse um filho. Minhas filhas até brincam que eu tive as duas e depois tive o Astrology Zone.
Como é seu cotidiano?
Começo a escrever às 9h e só saio do computador lá pela uma, duas da madrugada, quando não consigo mais ficar de olhos abertos. No fim de semana, é a mesma coisa. Não tiro férias há uns 15 anos. Nas minhas previsões mensais, cada signo leva umas sete horas para ficar pronto. Eu costumo escrever todos os 12 em uma semana.
Há quem diga que você é otimista demais nas suas previsões.
Tento ser positiva, eu sou assim! Se você der um mesmo mapa para vários astrólogos, cada um lê de uma forma. Agora mesmo, neste restaurante, todo mundo parece feliz, mas há muito sofrimento. Não quero iludir ninguém, mas quero dizer que sempre há uma saída, porque para mim sempre houve.
Mas não pode ser perigoso poupar os leitores das más notícias?
Minha missão é ajudar, mas não quero dar falsa esperança. Ano passado, quando eu escrevia sobre 2010, sabia que seria um ano duro, mas não queria falar para as pessoas o quão duro seria, senão elas aumentariam os problemas. Preferi dizer que seria um ano para se reinventarem. Que as formas antigas de encarar os problemas não serviriam mais, que deveriam arriscar-se, testar coisas novas.
É uma questão de ponto de vista?
Exato. E eu falo das coisas ruins também, sempre. Quero que as pessoas saibam quando será um bom dia para pedir aquele aumento para o chefe ou ter uma conversa séria com a namorada. E quero que elas se preparem para o que está por vir, que não sejam atropeladas por um ônibus sem saber.
Você sempre sabe quando o ônibus está vindo?
Nem sempre. Ano passado vi problemas chegando para Virgem e Peixes, o meu signo. Fiquei preocupada com a minha mãe, porque Lua no mapa é mãe. Liguei para ela, e ela estava ótima. Continuei escrevendo e vi que, mesmo aumentando as letras do computador, não enxergava direito. Fui ao médico e diagnosticaram: eu tinha degeneração macular, que geralmente ataca pessoas mais idosas, mas, por causa dos meus problemas de saúde anteriores, veio mais cedo. Preciso tomar uma injeção no olho a cada duas semanas pelo resto da vida e gastar US$ 48 mil por ano para pagar o tratamento.
Houve algum grande acontecimento passado que você previu com antecedência?
No ano do 11 de setembro houve dois eclipses, 21 de junho e 5 de julho. O aniversário dos EUA é dia 4 de julho e o de George W. Bush, dia 6 de julho. Todos os astrólogos estavam ressabiados, mas nada aconteceu. No entanto, descobrimos depois que toda comunicação dos terroristas, o planejamento da ação, ocorreu entre esses dois eclipses. Eclipses sempre mostram uma falha que precisa ser resolvida. E eles fizeram isso de um jeito implacável. Foi o que aconteceu.
Um astrólogo é tão bom quanto mais certeiras forem suas previsões?
Sim, mas não só isso. Ele deve ter a habilidade de olhar para o mapa todo da pessoa de uma só vez, como o cara do circo que equilibra todos aqueles pratos nas varas.
Você não cansa de escutar os problemas dos outros?
Sim, por isso não atendo mais de dois clientes por mês.
Quanto custa cada sessão?
Normalmente, cobro US$ 500. Eu poderia cobrar mais, mas estamos numa situação complicada no país.
A astrologia aproxima-se um pouco da psicologia?
O próprio Carl Jung era um defensor dela. Ele costumava dizer: “Nós nascemos em dado momento, em dado lugar. Como as uvas dos vinhos, nós temos as qualidades do ano e da estação em que nascemos. A astrologia não propõe ser nada além disso”.
Mas você considera a astrologia uma ciência?
Não, mas é baseada nela, nas viagens que os planetas fazem e nos ângulos que eles têm em relação aos outros. Os babilônios e outros povos antigos já escreviam isso.
É impressão minha ou mulheres costumam ser mais entusiastas da astrologia que os homens?
No começo dos tempos, era algo exclusivo do mundo dos homens. Muitos reis governavam baseados nos astros. Depois, nos tempos modernos, virou mesmo uma coisa mais feminina, mas isso está mudando. No meu site, aproximadamente 47% dos leitores são homens. Ser curioso sobre o futuro é uma qualidade humana, independe do sexo. A maioria dos amigos das minha filhas que me procuram, por exemplo, é de garotos. Muitos executivos de Wall Street vêm a mim, roteiristas de Hollywood pedem dicas sobre a personalidade de personagens.
Algum político?
Ronald Reagan usava astrologia, porque ele era ator, e atores e pessoas criativas em geral amam astrologia. Ele dizia que aqueles mapas todos eram de sua esposa, mas eu sei que isso não é verdade. Soube que o atual secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, é adepto também.
E o Obama?
Não sei, mas espero que sim. Ele está num momento complicado, coitado. As pessoas perderam seus empregos, suas casas, estão realmente desesperadas. Essa recessão horrível só vai acabar em outubro de 2012, nas vésperas das eleições. As pessoas vão achar que se trata de uma manipulação, mas não é. É Saturno deixando Libra.
O que mais podemos esperar para o futuro?
Netuno em Aquário nos deu a internet, as redes sociais e várias outras coisas boas. Mas também deixou as pessoas mais frias, terminando relações por post-it ou por um recado no Facebook. Elas estão pensando: “Eu não gosto da cor dos seus olhos, vou pular para o próximo pretendente”. Amor virou mercadoria, mas isso vai mudar em 2012, quando Netuno vai estar em Peixes, permanecendo lá por 14 anos. Teremos uma prévia disso entre abril e junho do ano que vem.
Então 2012 não será o fim do mundo?
Não, Deus nos ama demais para fazer isso. Mas quer saber de algo engraçado? Eu olhei o mapa do dia 31 de dezembro de 2012 e realmente não há nada de anormal. Nada que já não tenhamos vivido, nenhum eclipse que implique grandes reviravoltas. No entanto, o 31 de dezembro deste ano tem um eclipse, e dos grandes. E se lá no passado, quando previram o fim em 2012, eles tiverem errado os cálculos? Estamos falando de 5.250 anos atrás, não é difícil errar por dois anos. De qualquer forma, dezembro próximo não será um bom mês, Mercúrio vai estar retrógrado. Então faça suas compras de Natal antecipadamente, ou ninguém vai gostar dos seus presentes [risos].
Alguma previsão para o Brasil?
2011 vai ser o melhor ano de vocês desde 2000. Os primeiros seis meses serão de preparação e a partir do mês de junho vocês irão crescer muito. Isso vai durar dois anos. Vocês têm a Lua em Aquário, conjugada com Urano, que quer dizer que vocês são muito bons com comunicação eletrônica, redes sociais, essas coisas. Eu vejo o Facebook morrendo e acho que o seu substituto poderá ser brasileiro. O mapa diz que vocês têm uma personalidade pouco apegada às regras, à tradição. Isso pode ter algum efeito na eleição de vocês deste ano.
Só boas-novas então?
Para ser sincera, sei pouco do seu país, mas sei que vocês estão crescendo 8% ao ano enquanto nós estamos apenas em 1%. Eu adoraria ter o Astrology Zone traduzido para o português. Estou em busca de patrocinadores para fazer isso acontecer. E avise a todos que em março estarei aí.