por Redação

Se lessem Marcelo Mirisola, Bukowski, Céline e Sade soltariam gargalhadas de prazer

Cadê a minha putinha? O jeito dela de dona-de-casa - minhas havaianas particulares, a gente se lambia. Eu pagava, ela fazia negócios pelo telefone, tratava de sexo anal e de comissão do seu gigolô, mentia pra mim. Assim começa o segundo petardo de Marcelo Mirisola, O Herói Devolvido, um paulista que vive isolado em Santa Catarina e é impiedoso com convenções: Ah, se Hebe Camargo e Mário de Andrade não tivessem existido. Ao mesmo tempo profundo e engraçado, MM surpreende o leitor com uma alucinada disritmia - sabe como poucos conciliar o sujo e o sublime no mesmo parágrafo. Como nos contos de seu primeiro livro, Fátima Fez os Pés para Mostrar na Choperia (Editora Estação Liberdade), donas de casa, mongolóides, manicures, executivos e prostitutas dividem espaço com sarcásticas opiniões: Não acredito em arroz integral, nos Cavaleiros do Apocalipse, no Elefantinho da Cica e em nada transado. Se lessem MM - uma das vozes mais originais da nova lite-ratura brasileira -, Bukowski, Céline e Sade soltariam gargalhadas de prazer: Não tenho vocação para redimir os pecados ou fazer festinhas para os outros dentro do meu próprio, deliberado e insustentável inferno.(Ronaldo Bressane)O Herói Devolvido, Marcelo MirisolaEditora 34, 191 páginas, R$ 18
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