Sobre Riscos e Impulsos

por Luiz Alberto Mendes

Riscos

 

Hoje cedo estive pensando em quanto somos propensos a emoções fortes e à impulsividade, principalmente porque vivemos pressionados interiormente. A vida mesma acontece só dentro da gente. É mínimo o tempo que convivemos com os outros em comparação ao que vivemos em nós. Estamos sempre conosco.

Fazer sexo sem proteção é uma dessas impulsividades. Os esportes radicais provam o que estou dizendo. O consumo de drogas e bebidas é outra maneira de escapar à tensão existencial. Há quem goste de ler, outros de música, pintura, artes em geral, que me parecem saídas mais inteligentes. Dá até para fazer um pouco de cada uma dessas coisas.

O tempo encurta os espaços e nos comprime, pressionando a cada dia mais um pouquinho, acelerando continuamente. Suportar toda essa pressão tensionada é quase impossível. Aguentamos por períodos e logo carecemos de afastamento. A droga é um afastamento. Poderíamos chamar de fuga. Sim, há uma espécie de fuga à liberdade de decidir e escolher o tempo todo. Liberdade talvez seja apenas outra faceta da pressão a que estamos submetidos.

Somos muito diferentes eu e meus filhos. No Play Center fica transparente. Eles carecem desesperadamente desses riscos que estamos falando e são super impulsivos. Querem os brinquedos mais radicais. Exatamente aqueles que parecem oferecer mais risco. Porque será? Há mais tensão na vida deles? De certo; todo o mundo a conhecer deve gerar uma pressão enorme por querer tudo agora e já. Um sem tempo. Eu já me esforço muito para fazer “vazio das coisas inúteis”, como diria uma amiga. Naturalmente busco qualidade, profundidade e abrangência.

Quando sai da prisão, bobalhão acompanhei meus filhos no Hopi-Hari, tipo “pai participativo”. No brinquedo que eles iam, eu ia também. Mas quando aquele assento enorme ao qual fomos presos foi subindo, não imaginava o que iria acontecer. O negócio despencou lá de cima numa velocidade que meu coração quase saiu pela boca. Sério, a sensação é de que estava morrendo. Só quando baleado pela polícia senti aquele tipo de desespero, mas aquilo era pior. Pavoroso, numa palavra. Nunca mais, nunca mais mesmo, entro naquele lugar. E Renato, meu filho mais velho, ria, feliz da vida.

Depois ainda cai na besteira de acompanhar o meu menino mais novo no trem fantasma. Se podia criança de 8 anos, não seria tão pavoroso quanto o outro, era minha lógica. Tinha que dar uma de pai. Aquele troço começou andando e de repente estava acelerando, acelerando e entrando em buracos escuros igual breu. Meu estômago embrulhou, vomitei várias vezes no chão e no meu sapato. Não tinha mais o que vomitar e o negócio correndo, correndo... Nunca me senti tão mal em minha vida. Nem quando sob tortura. Novamente pensei que morreria, desabei no assento e me entreguei. Queria morrer logo, escapar daquela coisa que corria. E ele foi parando, parando...

Só sai do assento com ajuda. Fui levado na enfermaria, me puseram para respirar no tubo de oxigênio e tomar calmante na veia. Rápido me recuperei.

Sai dali xingando, bravo e com raiva até de mim mesmo. Além de tanto sofrimento ainda paguei comédia na frente de meus filhos. Eles estavam felizes, saltitantes, zombando de mim e querendo mais. Para a sorte deles, minha sobrinha, que é outra maluca, adora esses brinquedos radicais e os acompanhou. Porque eu, nem que me pagassem muito não voltaria naqueles lugares infernais!

Talvez a idade aumente nossa capacidade de suportar a tensão e tudo o que já vivemos de emoções fortes e impulsos já nos bastou. Ainda sou bastante impulsivo (por mais deteste isso) e gosto de emoções verdadeiras, mas percebo que prefiro um Blues de Baddy Guy à pauleira da Metállica. Mas já foi absolutamente ao contrário.

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Luiz Mendes

14/01/2010.  

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