A jornalista Erika Palomino descreve o surgimento da cena clubber e do ativismo LGBT nos anos 90
A jornalista Erika Palomino descreve o surgimento da cena clubber e do ativismo LGBT nos anos 90, cuja importância foi muito além das pistas
Outro dia, passeando pelo Twitter, achei um post do jornalista e DJ Camilo Rocha, compartilhando uma entrevista da querida Erika Palomino para o Thump – um dos blogs bacanas do superantenado grupo Vice – sobre a cena clubber de São Paulo dos anos 90. Que delícia! Parei tudo o que estava fazendo para curtir mais uma aula de história sobre a noite da cidade. Eu amo ler a respeito do assunto e descobrir como foi sendo construído o ambiente em que, muitos anos depois, vivi tão intensamente com o Studio SP.
Na entrevista, Erika descreve os anos de Nation – histórico clube da Augusta (sempre ela!) –, Massivo e Sra. Kravitz no início dos anos 90 e logo depois o Hells como o epicentro do comportamento que reunia a música e a turma que fizeram o que foi chamado de cena clubber. “Éramos muito pequenos, em número de pessoas, mas nos sentíamos muito representativos do que acontecia na cidade em termos de vida noturna.” Verdade! E que cena não começa pequena, não é mesmo? Lembrei de Andy Warhol, em seu sensacional livro Popismo, contando que toda aquela loucura pop do anos 60 – que transformou o mundo – estava sendo feita por umas 200 pessoas ao todo.
A “ferveção” da época teve importância social muito além das pistas. Erika descreve o processo de construção de seu livro Babado forte, que é até hoje o melhor retrato existente daquele período, e destaca o papel das drag queens como central naquele processo, que, segundo ela, definiu para sempre o seu próprio papel como jornalista. Foi o momento das primeiras Paradas Gays e o ativismo LGBT aflorava no Brasil tendo como base a noite transgressora e debochada.
UNDERGROUND
O papo rolou também sobre os tempos da coluna “Noite Ilustrada”, que capturava com tanta verdade nas páginas do maior jornal do país toda a dinâmica do underground daquela São Paulo. Ainda na entrevista vieram as reflexões sobre as consequências fortes no mundo da moda e outros subprodutos gerados pelo período.
Na Trip sobre veneno, dois sentidos para essa palavra. O primeiro é o quanto venenosa pode ser a falta de memória (e isso vale para todas as áreas). Nation, Hells, Babado forte, “Noite Ilustrada”, drags e toda essa cena precisam estar mais presentes nas nossas consciências pois ajudam a explicar o que a cidade de São Paulo se tornou. E o segundo sentido da palavra é que toda cidade precisa de um pouco de veneno para ser interessante. Esse seria o bom veneno, que toda aquela turma tinha de sobra. Parabéns ao repórter Eduardo Ribeiro pela entrevista (tinyurl.com/n8wv4l5 ) e pelo interesse.
Beijo, Erika! Saudades!
*Alê Youssef, 38, é apresentador do programa Navegador, da Globonews, comentarista do programa Esquenta!, da TV Globo, advogado e produtor. Seu e-mail é alexandreyoussef@gmail.com