Há uma questão interessante formulada em uma fábula filosófica do livro A Carta Esférica
Escudeiros e Cavaleiros
Há uma questão muito interessante formulada em uma fábula filosófica do livro "A Carta Esférica", de Arturo Perez-Reverte. Alias, devo aqui testemunhar que este foi um dos melhores, senão o melhor, romance que li nos últimos anos.
Bem, a fábula narra que em uma ilha isolada existem apenas escudeiros e cavaleiros. Os escudeiros sempre mentem e traem. Digamos que na fábula, este é um defeito irreversível. Cavaleiros nunca mentem, nem traem. Virtudes perenes.
Um dos habitantes da ilha afirma: eu vou mentir e trair sempre. A pergunta é sobre a natureza desse personagem: ele é escudeiro ou cavaleiro?
Essa história faz lembrar o início do livro "Demian", de Hermann Hesse. Questiona-se ali, quem seria o bom ladrão entre os dois pendurados na cruz, ao lado do Cristo. Aquele que se arrepende e pede perdão, ou aquele que prefere seguir até o fim, mesmo sofrendo aquela morte horrível, ladrão como sempre foi?
Sobre a questão proposta pela fábula do livro citado, ao final o autor expõe a única resposta viável, a partir da história narrada no livro. Para aquela ilha, para todas as outras ilhas e todo continente: não existem cavaleiros, todos somos apenas escudeiros.
Ah! Sobre essa questão do bom ladrão eu não me recordo da solução encontrada pelo autor. Mas me parece agora que a melhor resposta seria bem parecida com essa da fábula: não existem bons ladrões.
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Luiz Mendes
30/03/2010.