Consumismo
Ao sair da prisão fui violentamente agredido pelo consumismo, essa doença da vontade. Estava prevenido teoricamente e as contingências (falta de grana para comprar) facilitaram. Então pude reagir e, de alguma forma, conter a pulverização de minha vontade. Claro, vazou, vacilei um monte de vezes e fui enganado outras tantas. O pior é que o ataque continua. A defesa deve ser cerrada, vacilou e o cachimbo cai da boca. O consumo não admite vácuo, a invasão é certa.
Vejo amigos e conhecidos invadidos, tomados pela doença (ou vício?). Alguns estão no gancho de açougue dos bancos. Os cartões de crédito estouraram. A saída é emprestar de bancos. Depois para pagar um, empresta de outro. Os juros e a dívida crescem. Não precisa ser em Shopping ou cidade, a doença procura sua vítima. Algumas vizinhas aqui de casa não podem ver passar alguém vendendo algo na rua que compram. Depois os vendedores passam cobrando todo mês. Pela cara de tristeza que fazem, percebo a dureza para receber.
Mas é nos shoppings que a gente sente mais fortemente o cerco. Aquelas lojas brilhantes, com as vitrines artisticamente expostas e suas sofisticadas técnicas de marketing, derrubam qualquer disciplina ou disposição. As pessoas se aglomeram para comprar. Fico olhando e pensando que eles não ganham assim tão mais que eu. Imagino que devam ficar com imensas dificuldades para equilibrar depois. Talvez essa doença seja a raiz de outras doenças, como a corrupção e desonestidade.
Vire e mexe derrapo na curva. Compro, compro e compro; não resisto mais. Na hora de pagar, me arrependo amargamente. Passo meses na maior dureza, como nos últimos que comprei computador, ventilador, geladeira e TV de plasma, tudo de uma vez e parcelado no cartão. Já estou começando a me recuperar de mais essa investida do consumismo. Com certeza ficarei um longo período (tomara que anos) sem dar trabalho e preocupação para mim mesmo. Estou atento, vigilante.
Luiz Mendes
29/04/2010.