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Sexo e a cidade

Apesar do lifestyle gringo, uma série com boas reflexões

Por Redação

em 21 de setembro de 2005

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O canal de TV por assinatura Multishow prepara-se para prestar um grande serviço à mulher brasileira (e, por tabela, ao homem). É que finalmente, pelo visto depois de extensa negociação, o canal voltará a exibir a série da HBO norte-americana Sex and the City.

À primeira vista, os capítulos do programa podem parecer apenas mais uma forma subliminar de empurrar o lifestyle gringo goela da macacada abaixo

Sob certo aspecto, não deixa de ser.

É quase impossível resistir à propaganda da cidade e não desejar caminhar pelas ruas de Nova York depois de um episódio. Manhattan é mostrada em seu melhor, do hype até as quebradas que poucos conhecem, e o site do programa, atendendo a pedidos, faz tempo, viu-se quase obrigado a publicar os endereços de bares, night clubs, restaurantes, livrarias e lojas que servem como locação ao seriado. Lojas, diga-se, fazem pano de fundo para boa parte das cenas. Tratando da vida de quatro mulheres solteiras vivendo no umbigo do capitalismo e do consumismo, era de se esperar. Ocorre que os produtores juntaram o que naturalmente estaria em qualquer roteiro do gênero com uma importante fonte de renda, já que volta e meia o espectador se defronta com uma grande sacola da Chanel, um par de sapatos Manolo Blanik com a etiqueta em evidência e outras sutilezas do maravilhoso mundo do merchandising.

Ouve-se no mundo da moda americano que emplacar um vestido ou um sapato no corpinho delgado e sensual da protagonista Sarah Jéssica Parir pode projetar uma marca às esferas mais inalcançáveis do sucesso.

O fato de que as atrizes principais são todas bonitas e magras também não ajuda muito na tentativa de retirar a série da vala comum do lixo que em geral vem dentro dos chamados enlatados. É verdade que Sarah Jéssica, apesar de inteligente, sensível e charmosa e do belíssimo par de seios que ostenta orgulhosa, está longe de ser uma Linda Evangelista, e que a moça que faz o papel da advogada da turma, tem ângulos menos felizes, mas, em linhas gerais, são todas belas e magérrimas, como reza o figurino da mídia e da propaganda.

Pior é melhor

Onde, porém, o seriado finca seu pé de apoio e salta sem susto para o patamar da boa produção feita para tevê, é no inusitado fato de que basicamente todo o conteúdo da série tem como alicerce a imperfeição humana. Quando se fala em algo concebido para a televisão americana pré-11 de setembro, isso é realmente algo inusitado.

Assim, o que o telespectador brasileiro vai poder voltar a desfrutar é uma confortável cadeira de voyeur, fuçando a vida de quatro mulheres solteiras na faixa dos trinta e vários aos quarenta e poucos, e toda a confusão que é lidar com suas existências, neste século tão zoado.

Um oceano de ansiedade, frustrações por atacado, desilusões, mancadas profissionais, ciúmes, vexames, orgasmos não atingidos, parceiros de cama frustrantes, todos esses dramas convivem de forma leve, muito bem fotografada, e extremamente divertida e inteligente, com sutileza suficiente para fazer os puns, cocôs e outras excrescências do roteiro de Os Normais, parecerem esquetes do Casseta e Planeta.

Quarentona e ninfomaníaca

Entre as tramas principais que pontuam a série está a frustração de Carrie, a principal personagem, abandonada pelo amor de sua vida (um bonitão e bem-sucedido executivo um pouco mais velho, sugestivamente apelidado de Mr. Big), sempre arredio a um compromisso mais sério, e que repentinamente a trocou por uma modelo mais bonita e mais jovem, com quem se casou, com direito a cerimônia e foto no caderno de sociedade do New York Times. Pode-se acompanhar também um certo drama vivido por Miranda, a tal advogada ruivinha da turma, que engravida e vai morar com o pai da criança, um amigo, não exatamente brilhante, demasiadamente gentil e certinho, quase irritante, de quem gosta, mas que imagina, está longe de amar. A forma como o sexo é abordado, num país que não é exatamente notório pela facilidade em lidar com o tema, é outro diferencial. Vejamos uma frase pinçada aleatoriamente de um dos capítulos, disparada pela mesma Miranda, numa mesa de brunch com as três amigas. ‘Eu costumava me masturbar pensando num garçom que me tratava muito mal nesse restaurante…vocês acham isso estranho?’

Num dos episódios da terceira série de SATC (já disponível em DVD pelo site da Amazon) por exemplo, Samantha, a Relações Públicas, quarentona e ninfomaníaca, conhece no balcão de um daqueles bares chiques que só existem em NYC, um legítimo exemplar de ‘Mister Right’, bonito, arrojado, forte, inteligente, sensível e bem-humorado. Completamente apaixonada, depois de meia hora de conversa, Samantha decide ir embora com seu novo amor, para uma noite de sexo selvagem e luxúria. Ao se levantarem dos bancos do bar, porém, a loira escultural descobre que sua nova paixão mede aproximadamente 1,55 m. Algo que pode parecer uma piada banal vira uma sucessão de situações de constrangimento, repulsa, amor, comédia e, principalmente, de contato direto com nossos defeitos e imperfeições, que merecia ser obrigatório nas escolas. Diversão com reflexão de brinde.

Doesn´t get any better.

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