Selo independente de vinis e loja on-line, especializada em música negra e latina, a Marafo Records está em todo canto também com as intervenções urbanas do fundador, Eduardo Medina
Pedalar para entregar os discos de vinil que vende pela Marafo Records fez com que Eduardo Medina desse muito rolê por São Paulo. Foi natural para ele parar em algumas paredes cinza pelo caminho e pintar à mão livre o copo de boteco que representa seu selo de vinis, que fundou em 2015. "Sempre tive uma relação forte com a cultura de rua. Comecei nos anos 90, com pixação. Depois, me caiu a ficha que esse seria um jeito de disseminar minhas ideias e ocupar a cidade com transgressão e resistência. Gosto do lance efêmero do grafite, como uma timeline da cidade. Pintar na rua é muito bom, é viciante. Virou parte do meu dia a dia.”
Os copinhos estão também nas ruas de Salvador, Recife, Rio de Janeiro e outras cidades por onde Medina passou levando a Marafo. “Já trabalhei com publicidade e tinha muita vontade de quebrar a forma tradicional de fazer propaganda, busquei um maneira de divulgar o trabalho que tem muito mais a ver com meu rolê ”, diz.
Além de ser uma loja on-line em que Medina vende títulos de jazz, rap, soul, música negra e latina garimpados por ele, a Marafo também relança em vinil álbuns fundamentais da cena independente nacional que só existiam em CD. “Do meio dos anos 90 até mais ou menos 2012, pouca gente investia em vinil. Trabalhos que considero emblemáticos da cena cultural contemporânea não existiam no formato e resolvi fazer esse movimento”, explica.
LEIA TAMBÉM: Osgêmeos, a vida e os segredos dos filhos coloridos da cidade cinza
O primeiro (re)lançamento do selo foi o ótimo Kiko Dinucci e Bando Afromacarrônico, que saiu 2016. "Marafo é cachaça em rituais de umbanda. E esse disco tem uma pegada de candomblé, conversa muito com o conceito do selo. Além de ser um registro de um período bem importante. Muita gente que hoje gosta do Metá Metá entendeu com esse álbum onde tudo começou", explica.
Foram 500 cópias que vieram direto da República Tcheca. "Lá eles conseguem produzir o vinil de uma maneira artesanal e ter um preço legal. Tenho muito cuidado também com as capas. Essa foi feita com serigrafia", conta.
Ano passado, Medina encomendou a bolacha de Siba e a Fuloresta, pérola da música pernambucana de 2007. "Siba estava comemorando os dez anos desse disco. Foi especial também porque a capa é do Osgêmeos, caras que admiro muito. Foi um encontro muito feliz", diz.
“No início do próximo semestre lançaremos o vinil do álbum 3 na Massa – Confraria das Sedutoras, projeto do produtor Rica Amabis em parceria com Pupillo e Dengue, integrantes da Nação Zumbi. Thalma de Freitas, Céu e Leandra Leal cantam no disco, que completa uma década esse ano ”, adianta Medina.