As muitas mulheres

por Giulia Garcia

Exposição MUITAS reúne o trabalho de 11 artistas mulheres da arte contemporânea para representar o universo feminino sem estereótipos

Pintura, fotografia, bordado, grafite, tatuagem, performance e ilustração. Tudo feito por mulheres. A exposição coletiva MUITAS, que rola a partir do dia 8 de março no PICO, reúne o trabalho de 11 nomes de destaque da arte contemporânea para representar o universo feminino. “De acordo com as Guerrilla Girls, menos de 5% dos artistas na seção de arte moderna são mulheres, mas 85% dos nus também. Nós podemos nos retratar de mulher pra mulher, podendo controlar nosso próprio corpo. E quem melhor do que nós?”, explica a fotógrafa Marina Nacamuli. Retratando a vida de rua, os íntimos da cidade, Marina exibe fotos que apresentam detalhes femininos que fogem do óbvio, do clichê.

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Esse é um dos objetivos da mostra. O nome MUITAS remete à diversidade na arte e na representação feminina, geralmente restrita a estereótipos. “São muitas artistas com obras fortes e autorais de diferentes universos, tenho certeza que quem visitar a exposição vai ficar surpreso pela pluralidade”, diz a artista visual Camila Fudissaku. O trabalho dela permeia o sexual e o lisérgico e, nas obras que exibe nesta exposição, busca escancarar alguns dos muitos desejos femininos - de um jeito que as mulheres realmente gostam, não da forma esperada pela família brasileira.  “As pessoas não esperam muito que uma mulher transite por aí. Parece ridículo, mas acontece”, diz.

Enquanto o sexo parece não pertencer ao universo feminino, a negritude parece apagada de todos os universos. Por isso, Criola leva seu trabalho, oriundo do grafite, ao encontro da história e da ancestralidade afro-brasileira. “Há impacto relacionado ao meu trabalho, já que carrego a figura e a autoralidade da mulher negra. Acredito que precisamos ocupar e estar em todos os espaços, as nossas presenças são fundamentais e urgentes para trazer uma outra perspectiva e descentralizar o poder, nos tornando autoras e não apenas temática de instituições”, pensa.

O subconsciente humano aparece na exposição a partir das pinturas de Fefê Talavera. Os monstros de suas obras são metáforas de emoções fortes e trazem um lado de seu "eu" que foge dos estereótipos de feminilidade. "Acho que a temática geral da exposição não terá uma visão clichê do que é 'o feminino', ou assuntos que se esperam quando esse tema é proposto", diz Talita Hoffmann. A gaúcha leva sua obra Quitanda para o PICO, na qual trata da constante remodelação do espaço urbano em seus vários canteiros de obras.

Já as obras de Silvana Mello falam do momento atual que vivemos, e, para isso, busca inspiração em referências nostálgicas para ela. “Acredito que o que eu faço reflete diretamente o que eu sinto, mostra o que acho importante e tenho vontade de falar.”  E é nisso que Rita Wainer acredita que está o valor de MUITAS. “Essa mostra é de uma importância gigante. É disso que precisamos para ter voz e mudar a situação das mulheres”, defende a artista multimídia. Conhecida por seu trabalho feminino e feminista, ela explora diferentes plataformas, da aquarela a grandes murais no Brasil e na França.

“Acredito ser muito importante uma reunião desse calibre, reunir mulheres de peso com propósito e um trabalho sólido é um impacto e tanto em um momento que se fala muito em igualdade de gêneros. Estamos propondo abrir espaço para mostrar, falar, ouvir e trocar. Espaço esse que não deveria precisar ser aberto e sim algo normal. Assim esperamos que seja daqui pra frente”, diz Flip, sócio-fundador do PICO, espaço que promove a exposição.

“Sabemos que a representatividade feminina no meio das artes sempre foi tímida, mas isso está mudando. Iniciativas como essa com participação exclusiva de artistas mulheres em segmentos variados é absolutamente necessária hoje em dia”, completa Carla Arakaki. Fotógrafa das ruas, tem seu trabalho autoral baseado nos escritores urbanos e leva para a exposição três dos mais atuantes e audaciosos nomes do pixo e do grafite: Jack (Parceiros), Lis (Arrastão) e Bia (Pran) —  três mulheres. 

A representação das mulheres pela fotografia é algo que liga Carla a Autumn Sonnichsen. A fotógrafa norte-americana tem como grande tema os corpos femininos e ficou conhecida por suas fotos sensuais. Enquanto isso, Natasha Vergilio usa seu próprio corpo para tratar das questões femininas, levando para o PICO uma de suas performances autorais, com foco na mulher negra. "Quero poder trazer um pouco esse corpo que não é dito, não é falado, não é pautado, na sociedade de uma forma íntegra, que é violentado diariamente de diversas formas", explica. 

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Mas por que essas mulheres estão todas na mesma exposição? “Embora sejamos artistas diferentes,  por sermos mulheres, passamos por dificuldades e experiências maravilhosas similares e nos conectamos na arte”, explica a tatuadora Bruna Yonashiro, que apresenta diversos de seus desenhos, mas dessa vez expostos nas paredes e não na pele das pessoas. “Todas nós somos muito diferentes em vários sentidos e o que nos conecta sem dúvida é a verdade que se reflete em nossos trabalhos, é realmente o que elas vivem e por isso é tão rica essa exposição. São mundos diferentes se encontrando no mesmo lugar”, completa Camila.

As obras de Fefê Talavera, Talita Hoffmann, Rita Wainer, Autumn Sonnichsen, Silvana Mello, Camila Fudissaku, Bruna Yonashiro, Carla Arakaki, Criola, Marina Nacamuli e Natasha Vergílio ocupam o PICO de 8 a 24 de março. A exposição vem acompanhada de uma programação completa para o mês, com debates — trazendo Clara Averbuck, Fernanda Barcelos e Janaina Rueda — , happy hour e muita música com os shows de Rimas & Melodias, Lívia Cruz e Bivolt e as DJs Carina Wonder, Pathy Dejesus e Ice Cream Girls.

Vai lá: PICO (Rua fidalga, 98, Vila Madalena, São Paulo). Quarta a sábado, das 14h às 19h.

Créditos

Imagem principal: Athos Souza/Divulgação

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