Junto e misturado

por Julia Furrer

OSGEMEOS derrubam as fronteiras entre grafite, hip hop e música clássica em exposição em Berlim

O novo trabalho da dupla OSGEMEOS em Berlim quebra a fronteira que divide o universo da música clássica e do hip hop e prova que não há limites para a arte.

Como as imagens soariam se fossem transformadas em música? Como se moveriam se ganhassem vida por meio dos corpos de dançarinos? Essas e outras provocações sinestésicas são o ponto de partida do novo trabalho da dupla, que acaba de estrear no museu de arte contemporânea Hamburger Bahnhof, em Berlim.

As criações dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo ocupam o salão principal e podem ser visitadas durante o dia, mas é à noite, quando o museu fecha suas portas, que a magia acontece. Junto de uma das companhias de dança urbana mais premiadas do mundo, a Flying Steps, eles desenvolveram uma experiência que mistura música clássica (com composições do russo Modest Mussorgsky interpretadas por uma orquestra ao vivo), artes plásticas e hip hop, em uma performance pensada para romper qualquer barreira entre essas diferentes formas de expressão.

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Trip esteve lá e bateu um papo com eles sobre o trabalho que leva o nome de Flying Pictures e fica em cartaz até o dia 2 de junho na capital alemã. Vem ver.

Trip. Como surgiu a ideia desse novo projeto?

OSGEMEOS. A ideia de misturar música clássica, artes plásticas e hip hop surgiu há uns três ou quatro anos com o Vartan Bassil e o Timm Zolpys, do Flying Steps. Eles fizeram o Flying Illusion e o Flying Bach, outros espetáculos com essa mesma pegada, e nós nos juntamos a eles desta vez com a missão de levar a experiência para um outro nível. Todo o conceito do espetáculo foi desenvolvido em cima da obra do Mussorgsky em um processo bem rápido para os nossos padrões: desenvolvemos toda a parte visual, as instalações, as esculturas presentes no show e os figurinos dos dançarinos em um ano.

Foi tranquilo passar do universo do hip hop para o da música clássica? Quebrar a barreira entre o clássico e uma cultura que nasceu na rua foi um desafio. Mas apesar de termos passado a vida inteira mergulhados nesse universo do hip hop, crescemos ouvindo música clássica com o nosso avô, que era da Lituânia. Acho que essa referência nos ajudou na hora de encontrar os melhores elementos para ilustrar essa obra do Mussorgsky de um jeito que não destoasse da essência do nosso trabalho.

E qual foi a sensação de ver as obras de vocês ganharem vida pela primeira vez? A gente já tinha tido algumas experiências com animações e outros bonecos que se movimentavam, mas nada parecido com o que estamos fazendo agora. Na estreia fizemos questão de atuar dentro dos personagens [três bonecos gigantes que participam de alguns números ao lado dos dançarinos] para entender até onde podemos chegar com esse tipo de performance. A melhor parte foi interagir com o público e observar a reação das pessoas quando o espetáculo começa e as obras se movimentam.

A reação foi boa? Foi incrível. É um espetáculo sem fronteiras, universal e muito rico visualmente, onde as imagens e a dança falam a mesma língua. As pessoas também ficam muito impactadas com essa nova geração de B-boys e B-girls. É impressionante o que fazem: são verdadeiras máquinas de dançar.

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Alguma chance de ver essa performance no Brasil? Claro. Queremos muito levar esse projeto para o mundo inteiro e seria genial dividir essa experiência com as pessoas do nosso país, mas por enquanto ninguém nos convidou e estamos olhando para possibilidades aqui fora. O Udo Kittelmann [diretor do Hamburger Bahnhof] é um visionário, que acreditou nesse projeto desde o começo e abriu as portas pra gente. Sabemos que não é fácil tomar uma decisão dessas, mas quando se acredita que a arte não tem limites, não tem regras, nem tem fronteiras, coisas incríveis se tornam realidade e são lembradas para sempre.

Créditos

Fotos: Verena Smit

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