São Paulo precisava de um choque

por Alê Youssef

A exposição da Choque no MASP, é uma das maiores conquistas políticas das novas gerações


A exposição DE DENTRO PRA FORA/DE FORA PRA DENTRO, organizada pela galeria Choque Cultural no MASP, é uma das maiores conquistas políticas das novas gerações e prova que existem formas alternativas de se transformar a realidade, fugindo dos padrões convencionais da caretice burocrática.

Artistas, produtores de cultura, empresários antenados, publicitários arrojados, skatistas, jornalistas e outros setores simpatizantes à causa da valorização da arte de vanguarda, estavam celebrando uma conquista coletiva de uma batalha onde grande parte dos presentes tiveram papel relevante.

Quando fui Coordenador de Juventude da Prefeitura e entrei nesse movimento desenvolvendo projetos como São Paulo Capital Grafitti, ocupação oficial do túnel da paulista, os mega painéis dos OsGêmeos , as oficinas de grafite nas Casas de Cultura e os festivais que valorizavam essa arte - Agosto Negro, Fala Mano, Hip Hop Rua, entre outros - não imaginava, mesmo com toda a movimentação criada, conseguir romper naquele momento barreiras do pensamento conservador e emplacar, por exemplo, a tão simbólica exposição da nova arte no MASP.

Ao entrar no museu e ver aquele espaço repleto de gente (mais de 2 mil pessoas passaram pelo primeiro dia de exposição) e ocupado por uma arte linda e transgressora tive uma sensação de vitória e pude perceber que o mesmo sentimento era compartilhado por todos os presentes.

Ao mesmo tempo, depois de quase 10 anos participando ativamente de todo esse processo não deu pra deixar de pensar que demorou muito para isso acontecer. O MASP estava às moscas. Repleto de problemas administrativos, dívidas e disputas políticas. Além disso, nosso ícone da arte estava completamente desconectado com a modernidade e com as novas gerações.

Apesar da alegria e da satisfação que sentimos na exposição deu pra perceber que com o tempo o Museu passou a precisar mais dos novos artistas do que o contrário. E isso é a completa tradução do momento que vivemos na cidade de São Paulo, onde todos esses movimentos de vanguarda se viabilizam com as próprias pernas e com a força da representatividade que exercem naturalmente.

No mesmo momento em que a Choque sai de seu sobradinho em Pinheiros e encanta a Avenida Paulista, OsGemeos batem recordes de público na FAAP e a revista Veja São Paulo expõe para a “cidade oficial “ nosso Baixo Augusta.

O próximo passo é tudo isso ser percebido e valorizado pelo poder público, que deve passar a considerar essa verdadeira revolução cultural que acontece de baixo pra cima, como uma das coisas mais importantes dos últimos anos e capaz de revitalizar a cidade como nenhum banqueiro, CEO de multinacional ou mega empreendimento imobiliário jamais conseguiu fazer. Zezão, Titi Freak, Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff e tantos outros são os símbolos de uma nova cidade, assim como Banksy é símbolo da nova Londres.

Talvez, ocupar o MASP, sair na Veja e outras representações simbólicas que dialogam com a elite cultural e política sejam escalas necessárias para que isso tudo seja definitivamente compreendido. Mas não deveria ser assim.

Parabéns Baixo Ribeiro e todos da galeria. Vocês deram um Choque na cidade. De fora pra dentro!

Na foto, obra de Carlos Dias.

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