São Paulo em poesia

por Natacha Cortêz

Em ’Quadras Paulistanas’, um poeta e um ilustrador declaram seu carinho por São Paulo

Fabrício Corsaletti, 35, nasceu em Santo Anastácio, interior de São Paulo, e desde 1997 vive na capital. Graduado em Letras pela USP, publicou, entre outros, King Kong e cervejas (contos, 2008), Estudos para o seu corpo (poemas, 2007) e Esquimó (poemas, 2010). Andrés Sandoval, 40, é artista gráfico e mora em São Paulo. Formado em arquitetura pela Universidade de São Paulo, desde 2006, ilustra a seção Esquina da revista piauí.

Ao longo dos últimos anos, Fabrício publica em sua coluna na revista sãopaulo, do jornal Folha de S.Paulo, poesia — em vez da prosa — a serviço da crônica do cotidiano, numa série a que deu o nome de “Quadras paulistanas”. Reunidas agora em formato de livro, ilustrado pelos desenhos de Andrés, a poesia de Fabrício percorre os bairros populares da metrópole , observa os variados tipos urbanos, cinematografa bares e lojas, e registra as mutações da linguagem e do comportamento do lugar.

A Trip conversou com a dupla.

Trip. Como é a relação de cada um com a metrópole?
Fabrício. É a minha segunda cidade. Ou a primeira, depois de 17 anos vivendo aqui. Nasci numa cidade do interior do estado e aos 18 vim para estudar. Acabei ficando. Gosto muito de São Paulo. Das pessoas, da diversidade de tipos humanos, dos bares (apesar das TVs), do anonimato, do clima de metrópole, enfim. Odeio o trânsito, os shoppings, as TVs nos bares, o desprezo pela memória da cidade, a caretice assassina dos que espancam gays na Paulista etc.

Andrés. Quero que a cidade mude, que seja mais justa, mais bonita e pra isso faço desenhos.

Trip. O que São Paulo entrega pra eles de inspiração que outros lugares não fazem?
Fabrício. Quem ler o livro saberá.

Andrés. O livro é forrado de desenhos de calçadas, achei que seria bonito que elas acompanhassem as quadras. As calçadas são como transbordamentos do espaço privado, cada um faz e cuida da sua, é um jeito estranho de ter um espaço público, é a cara de São Paulo.

Trip. Por que o Fabrício escolheu o Andrés para ilustrar?
Fabrício. Primeiro, porque o Andrés é foda. Segundo, porque somos amigos. E terceiro, porque ele um dia manifestou interesse em ilustrar algo meu.

Andrés. Também escolhi o Fabrício, viu! Adoro as quadras dele, senti falta da pergunta: - por que o Andrés quis ilustrar as quadras do Fabrício? A ideia de que o ilustrador é escolhido pelo autor e depois perguntam pra ele: como foi pra você? Um poquito raro.

Trip. Por que São Paulo é o cenário escolhido?
Andrés. São Paulo é a minha cidade, estudei arquitetura, sempre me interessei pela cidade. Já fiz estampas, livros infantis, instalações sobre o assunto.

Trip. Por que o Andrés quis ilustrar as quadras do Fabrício?
Andrés. As quadras me fazem desenhar, são suculentas! Também foi a chance de ilustrar um livro de público adulto, hoje há poucos livros pra adulto ilustrados, até a fonte foi desenhada por mim.

Vai lá: Quadras Paulistanas, ed. Companhia das Letras, R$ 38,00

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