Ronnie Von vs. Rappin' Hood

por Diogo Rodriguez

O pequeno príncipe e o rapper, frente a frente, mandam perguntas um para o outro

 

Á primeira vista, os dois não têm muito a ver. Ronnie Von é o "pequeno príncipe" da jovem guarda, cantor galã dos anos 60 e apresentador de um elegante programa de televisão voltado ao público feminino (Todo Seu, na TV Gazeta). Rappin' Hood tem parcerias com grandes nomes do rap nacional, canta "Sou negão" e apresentava um programa chamado Manos e Minas (TV Cultura).

Bastou um sofá e alguns minutos de papo para perceber que a primeira vista estava redondamente enganada. O "ladrão" dos versos e o príncipe pareciam velhos compadres dando risada juntos; Ronnie perguntou o porquê de Rappin Hood estar sumido de seu programa, e este disse que já que Ronnie não lança disco novo, vai ser obrigado a continuar a sampleá-lo.

Das diferenças, saiu um bate-papo divertido, apesar de curto: os dois estavam ocupados durante uma sessão de fotos para a Trip. Esse é o espírito da nova seção do site, "Entrevistas cruzadas", que toda semana vai trazer dois personagens escolhidos por terem algo em comum, mas estarem em mundos diferentes.

Ronnie Von: Ficou pronto o seu DVD [Sujeito Homem] novo? O que é que vai ter?
Rappin Hood: Tá quase! Ele é como se fosse o final de uma fase, retrata meus dois primeiros discos solo, quatro shows, os cinco videoclipes que eu fiz. Tem o Arlindo Cruz, o [Gilberto] Gil, a Leci [Brandão]... E uma música inédita.

Rappin Hood: Qual a diferença que você vê da música de antes para essa geração do Brasil hoje?
RV: Os movimentos que existem hoje são mais comerciais do que musicais. Antigamente, quando você tinha uma inspiração maior, batalhava, lutava, colocava seu trabalho embaixo do braço, ia em tudo quanto era gravadora, várias portas batiam na sua cara, e era muito importante que você tivesse uma origem humilde para poder fazer sucesso, senão era um usurpador, um filhinho de papai - eu sei, porque sofri preconceito às avessas. Hoje, para entrar nesse mercado, tem que ser rico. Tem que bancar o disco, o DVD, a gravação, não tem mais gravadora. Fundamentalmente, o que mudou é isso: rala-se muito mais, você tem que buscar muita grana fora, porque senão não acontece.

RH: Quando você vai fazer um disco novo?
RV: [Risos] Estou muito longe dessa história. Claro, tudo o que eu tenho emocionalmente e moralmente, devo à música. Tenho um carinho fora de propósito pela música. Mas eu me desiludi muito, bicho. Na verdade, as gravadoras deram um tiro no pé. Essa história da "institucionalização" do jabá, vamos dizer assim, ele passando a ser uma coisa correta em termos comerciais... Tinha que ser repassado isso [o custo do jabá] ao consumidor. Daqui a pouco o camelô te vende isso por um milésimo do preço. Vi coisas que você não acredita. Eu me insurgi contra essa coisa toda de gravadora, essa tralha toda, com empresário... O empresário não faz nada, é um corretor de sucessos., simplesmente administra um sucesso que já foi construído e faz a corretagem. Essa é a minha visão. Me desiludi com esse pessoal e com as gravadoras. Tive catorze convites, um pelo qual me encantei todo: gravação de grandes standarts da música brasileira no Teatro Municipal com a sinfônica... Aquilo foi um alento, eu digo: "Tô nessa". Aí teve um negócio da estatal que ia bancar não vai mais, porque mudou o diretor, que tem um outro projeto em mente.

RH: Depende de muita gente, a parte administrativa acaba matando a parte artística.
RV: Me distanciei em função disso, por absoluta desilusão. Foram catorze convites. Pode ser que o décimo quinto...

RH: Por enquanto, então, vou continuar te sampleando!
RV: [Risos]

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